VAMOS: Territórios e Meio Ambiente “Sem medo de propor e resistir contra um modo de vida perverso e especulador”
Por Brigada de Comunicação
Domingo à tarde, em Itaquera, pessoas de diferentes lugares da cidade de São Paulo se reuniram na Okupação Cultural Coragem para mais um debate do VAMOS. A sala principal já estava cheia quando a mesa sobre Territórios e Meio Ambiente iniciou a conversa e tendo em sua formação: o professor Michel Lowy, Maria das Dores (militante do MTST), professor Nabil Bonduiki, Sônia (representante indígena do Jaraguá) e Marzeni Pereira (ex-funcionário da SABESP no período da crise hídrica, em 2015).
Inicialmente, os representantes da Okupação Cultural, Renata e Sandro, apresentaram o histórico de resistência do local e destacaram a importância da realização do debate no espaço, uma vez que representa luta e o desejo de construção de um novo projeto de país para todos e todas.
Em seguida, professor Michel Lowy fez uma abordagem que destacou o momento de mudanças climáticas e ataques sucessivos ao meio ambiente. Citou a encíclica papal “Laudato Si” que discorre sobre o perigo e a importância de se impedir os desastres ambientais.
Lowy reforça o quanto as desigualdades sociais e destruição do meio ambiente são produzidas pelos mesmos objetivos e responsáveis, como proprietários de banco, e que visam apenas rentabilidade e lucro. Faz-se necessário valores humanos e sociais que possam romper com esse modelo perverso de vida.
Encerra sua fala abordando um novo modo de vida: o ecossocialismo. Esse seria a junção de ecologia e socialismo, que precisam caminhar lado a lado para a coletivização dos meios de produção. O ecossocialismo é um projeto revolucionário e necessita de resistência e lutas concretas para ser realizado.
A representante do MTST, Maria das Dores, destacou a importância de se discutir os temas para a construção de uma nova proposta para o país. Reforçou o crescimento das ocupações e abordou o aumento do déficit habitacional nos últimos tempos, lembrando sobre a Ocupação de São Bernardo que já ultrapassa as 8 mil pessoas.
Maria apresenta que a necessidade de moradia é uma questão social embora coloquem como policial, devido ao enfrentamento e a luta/resistência frente a especulação imobiliária que precariza a vida das pessoas. É preciso enfrentamento para lutar e vencer esse sistema que massacra famílias e nega o direito constitucional à moradia e, consequentemente, precariza outros direitos como saúde e educação. A militante enfatizou que o atual governo quer privatizar esse país, mas haverá resistência, mobilização e luta pelos direitos sociais.
Encerrou sua fala com a importância de um projeto que combata a especulação imobiliária e dê sustentabilidade para as famílias que necessitem. Aborda a questão da taxação de grandes fortunas, grandes empresários que pagam muito menos impostos e que é preciso um programa que olhe com atenção para as periferias, para a questão do aluguel social e a reorganização a respeito das especulações que ocorrem nas cidades desse país.
O professor Nabil Bonduiki contou, inicialmente, sobre sua participação e apoio para os grupos que atuam na luta por moradia ao longo de décadas e que tem sido crescente essa necessidade de resistência e luta de movimentos sociais. Reforçou o debate sobre uma plataforma de país e discutir a cidade, em suas disputas de espaço, como o mercado imobiliário, e que é preciso um uso urbano que garanta direitos sociais e culturais.
É necessária a luta social da propriedade urbana paralela ao uso que visa lucro e poder. Prioriza a ideia da reforma urbana, das atividades culturais e sociais com acesso para todas as pessoas e que limitar o direito de propriedade é um importante debate, mas isso não é relativo ao pequeno proprietário e, sim, a respeito das especulações imobiliárias.
Reforçou a necessidade de programas de habitação das camadas mais populares, ampliar programas e não regredir como o atual governo provocou e aponta como desafio para atingir o ecossocialismo: mudar o modelo de vida. É preciso uma perspectiva que não se prenda apenas ao consumo. Necessitamos minimizar distâncias, produção de resíduos, eliminar equívocos ambientais e, sobretudo, é preciso olhar com atenção áreas de proteção ambiental, indígenas e quilombolas e que tenham direito efetivo às áreas que lhes pertencem.
Encerra com a ideia de que o debate precisa vencer paradigmas para uma vida mais humana e com justiça social plena.
A representante indígena do Jaraguá, Sônia, abordou as comunidades indígenas e todos os ataques sofridos nos últimos tempos, não apenas no Jaraguá, mas todas as comunidades vêm sofrendo massacres, mortes violentas e opressão, e que há um silenciamento da mídia.
Destacou que é preciso lutar por direitos da comunidade indígena e a mobilização no Pico do Jaraguá simbolizou um enfrentamento e luta, desligando os sinais de retransmissão de televisão, reforçando a resistência pela delimitação de território indígena. O governo do estado de SP entrou contra uma portaria que garantia o direito ao espaço e o atual governo golpista de Temer revogou o direito.
Finaliza com a ideia que debater territórios e meio ambiente é tratar das questões indígenas em relação ao espaço físico/demarcação e sua preservação. Agradece a presença de todos e a união em tempos tão difíceis.
Marzeni Pereira, ex-funcionário da Sabesp – até 2015 – época da crise hídrica, falou da militância sobre a questão de saneamento básico e sobre a atual fase de destruição do capitalismo: relações humanas, espaços urbanos, saúde e trabalhista que promovem o lucro de grandes empresários. Destaca que foi demitido justamente por fazer denúncias contra a SABESP.
Reforçou que o consumismo e o desperdício para promover ainda mais o capitalismo, transformam a vida numa mercadoria e que combater isso é garantir uma vida mais digna e com justiça social.
Destacou que vivemos um tempo em que há privatização da água e que tal visão se tornou algo com trâmite na bolsa de valores e, portanto, é urgente debater a temática em todas as discussões sobre territórios e meio ambiente.
Finaliza com o ideal que não podemos ter medo de propor e resistir contra o enriquecimento de empresas que promovem uso desmedido de recursos naturais.
Após a fala de todos os presentes, foram sorteadas pessoas da plateia para comentários e questionamentos e foi observado em todos o desejo de se construir uma sociedade que combata a violência e a intolerância sofrida por negros, indígenas, mulheres e comunidade LGBT.
É preciso uma cidade democrática e que lute contra a especulação nos espaços urbanos. É necessário discutir sobre o controle de valor dos aluguéis e uma política de moradia social, repensando a lei de desapropriação com olhar atento para aqueles que necessitam de terra e moradia.
O evento foi encerrado com o ideal de continuidade do debate numa participação crescente e efetiva de todos e todas.