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Um delicado olhar sobre as crianças que vivem nos campos de refugiados

28 de junho de 2017

Fonte: Ponte Jornalismo

Por Karla Dunder

Matilha Cultural, em São Paulo, abre mostra fotográfica Infância Refugiada, de Karine Garcês

Menino refugiado | Foto por Karine Garcês

Hoje a Matilha Cultural abre a exposição Infância Refugiada/Refugge Childhood – Palestinians at Turkey, Lebanon and Syria da fotógrafa brasileira Karine Garcês. Com sensibilidade e delicadeza, Karine captou as expressões de crianças e adolescentes palestinos que vivem em campos de refugiados distribuídos na Turquia, Líbano e Síria. As imagens foram capturadas entre 2014 e 2015 durante uma viagem de caráter humanitário quando a fotógrafa integrou a missão da Organização Não-Governamental holandesa Al Wafaa Campaing.

Porém, antes da exposição, a fotógrafa. Karine Garcês nasceu no Ceará, em Antonio Diogo, distrito de Redenção. Foi criada em uma família católica e como ela define: muito solidária. “Em casa, a gente não sabia se era rico ou pobre. Nossas portas estavam sempre abertas a todos. Tínhamos um aparelho de TV e meu pai dizia que todas as crianças podiam assistir, sem distinção. ”

Questões humanitárias sempre estiveram no seu radar e foi o que a impulsionou a estudar Relações Internacionais na faculdade. “Eu quis entender as questões políticas que estão presentes nos conflitos. E pensando no aspecto humano, eu entendo que nós nordestinos somos migrantes, porque fugimos da seca e da miséria. Uma criança que viva numa periferia do Brasil também, de certa forma, é uma refugiada. Esse é um tema que me chama atenção. ”

A religião entrou em sua vida há 12 anos, quando começou a estudar e conhecer mais sobre os preceitos do islã. “Estudei e me converti. Digo que ali encontrei parte da minha vida que estava perdida, não estarei completa sem meu filho ou sem o islã. ”

E foi pela religião que surgiu a primeira viagem e os primeiros registros fotográficos de Karine, em 2012. Ela foi a Arábia Saudita para uma peregrinação à Meca. Ali conheceu a ONG Al Wafaa. Com a câmera na mão, seguiu para o Líbano e para a Faixa de Gaza. Foram 40 dias acompanhando uma ação comunitária distribuindo comida.

“O brincar é um ato de resistência, muitas vezes, subversivo”

“Em 2014, no período da Copa e das eleições na Síria, viajei para lá com 50 dólares no bolso. Uns amigos pagaram minha passagem para Beirute, porque o espaço aéreo sírio está fechado, e segui para um campo de refugiados na periferia de Damasco. Foram 15 dias intensos”, conta. “Os bombardeios nessa área são diários porque é uma região estratégica. As pessoas que estavam ali não sabiam o que era uma fruta há mais de um ano.  Não tem água potável, muito menos energia elétrica. Ninguém tem permissão para sair dali. Vi crianças desnutridas, queimadas. O brincar é um ato de resistência, muitas vezes, subversivo. Elas não podem ficar longe dos pais ou de adultos, os riscos são imensos. Essas crianças são muito maduras, sabem exatamente o que se passa ali. Foi exatamente esse olhar de desespero, esse pedido de ajuda que eu quis registrar nas fotos.

Fotografia tátil a partir da imagem captada por Karine Garcês | Foto por Karine Garcês

Nas imagens escolhidas para Infância Refugiada, Karine focou principalmente na realidade das crianças palestinas que sobrevivem nesses campos de refugiados. “Essa é a população mais vulnerável porque muitos já são refugiados e não podem pedir o segundo refúgio e também não podem voltar para a Palestina. ”

A exposição é inclusiva. Imagens foram reproduzidas em alto relevo para que por meio do tato pessoas cegas ou com baixa visão possam ‘sentir’ as imagens.

Além de denunciar a precariedade da vida nos campos, Karine também pretende arrecadar fundos para compra de material escolar e enviar para os pequenos refugiados. Marcadores de página, cartões postais e bonecas de pano estarão à venda e a renda será revertida para as crianças. Hoje, na abertura da exposição, será exibido o documentário Fogo no Mar, vencedor do Urso de Ouro em Berlim, de Gianfranco Rosi.

O filme retrata a vida na ilha italiana de Lampedusa, local que se tornou linha de frente da crise de imigração europeia. O público também poderá conferir a poesia Mini Zap! – Slam com Núcleo Bartolomeu de Depoimentos. Os interessados poderão participar do jogo ‘No caminho com os Imigrantes’, desenvolvido pelo Caritas Franca e Associationdes Cites, e conhecer mais sobre a realidade de exílio e imigração, bem como o impacto das políticas de vários países de trânsito ou destino desses imigrantes.

Serviço:

MATILHA CULTURAL

Rua Rego Freitas, 542 – São Paulo Tel.: (11) 3256-2636

Horário: 19h

Convite: Doação de 1 quilo de alimento, brinquedos, roupas ou produtos de higiene pessoal. Horários de funcionamento:

Terça-feira a domingo, das 12h às 20h/ exceto sábados: 14h às 20h