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SP alerta | As ofensivas de Doria como novo Governador de São Paulo

5 de fevereiro de 2019

Em suas primeiras semanas como governador, João Doria (PSDB) já confirmou aquilo que a sua campanha anunciava: regalias aos empresários e abusos contra a classe trabalhadora

Campanha dentro da Prefeitura

Sempre é bom lembrar que o novo governador do estado de São Paulo, João Doria, foi prefeito paulistano durante apenas 15 meses. Mesmo tendo prometido em público, por mais de 40 vezes, que não abandonaria o cargo para se candidatar ao governo estadual, Doria simplesmente largou a prefeitura da maior cidade do País com uma vasta lista de metas não cumpridas, numa gestão que só cortejou empresários e ignorou as necessidades dos trabalhadores.

Não bastasse o abandono da Prefeitura de São Paulo, o tucano conseguiu alçar-se governador paulista com uma campanha que foi alvo de investigação da Procuradoria Regional Eleitoral, devido ao uso indevido de recursos municipais para promoção pessoal com fins eleitorais. O que se pode esperar de quem recorre a qualquer meio para conseguir seus objetivos pessoais, dissociados do interesse público?

“A primeira pergunta que a gente faz é se, de fato, ele vai governar ou se ele vai fazer como fez na prefeitura, e usará o cargo para se preparar para a candidatura à presidência. Os primeiros sinais são de que vai fazer política para ser o candidato do PSDB daqui a quatro anos, inclusive já tendo feito visitas a Jair Bolsonaro e Sérgio Moro em Brasília”, aposta Moyses Ribeiro, coordenador estadual do MTST e da SP Sem Medo, e que acompanhou de perto a gestão de Doria à frente da prefeitura, inclusive organizando mobilizações.

Sobrecarga para o trabalhador e a trabalhadora

Desde a campanha, Doria tem se esforçado para colar sua imagem à de Jair Bolsonaro (PSL). Assim como o presidente eleito, o tucano mostrou a que veio antes mesmo de tomar posse. Exemplo simbólico está no transporte público: tanto o aumento da tarifa municipal dos ônibus de São Paulo (de sua ex-governo) como o da tarifa estadual do metrô e CPTM já estavam decididos ainda em 2018.

O aumento das passagens de metrô e trem, de R$ 4 para R$ 4,30, corresponde a um reajuste de 7,5% e que fica acima da inflação. O ônus para o bolso do trabalhador e da trabalhadora é proporcionalmente ainda maior, já que o novo valor do salário mínimo (R$ 954), determinado pelo governo Bolsonaro, ficou abaixo do previsto no Orçamento da União, que era de R$ 1.006. “Em termos práticos, o governo está respondendo às demandas por transporte público mais barato com a diminuição do poder aquisitivo do povo”, afirma Moyses Ribeiro a respeito de tal paradoxo.

Tiro, porrada e bomba

E a ‘estratégia de negociação’ do governo com os manifestantes contrários ao aumento das tarifas já ficou clara: tolerância zero. No 1º Grande Ato Contra o Aumento, convocado pelo Movimento Passe Livre, cerca de 20 policiais militares desceram de suas viaturas empunhando armas de fogo, com munição letal, perseguindo parte dos manifestantes.

Já na segunda manifestação, dia 15 de janeiro, o cenário não foi diferente: Doria mandou a Polícia Militar atacar os manifestantes antes mesmo de a passeata começar, enquanto o grupo ainda estava sentado e fazia um jogral. Pelo menos duas pessoas ficaram feridas, incluindo o fotógrafo Daniel Arroyo, da Ponte Jornalismo. “Os atos aconteceram debaixo de uma tremenda repressão, com a Polícia Militar tentando, de todas as formas, impedir o direito de livre manifestação. Mas a nossa resistência será à altura”, ressalta Ribeiro.

A truculência de Doria se estende para a política de segurança pública. Entre suas primeiras medidas, ele autorizou que os policiais militares usem espingardas de calibre 12 em qualquer período — o que era até então vetado — e disponibilizou mais 5 mil peças para a PM. Com alto poder de destruição, a calibre 12 é famosa por sua extrema letalidade. Confirmando de que se trata de uma medida populista de extrema-direita, o tucano afirmou que “em São Paulo, a partir de agora, imobilização do bandido que estiver armado, se ele assim reagir, ele não vai para a delegacia, nem para a prisão. Ele vai para o cemitério”.

Velha nova política

Desde novembro do ano passado, Doria já começava a pinçar entre os ministros do ex-presidente Michel Temer (MDB) seu futuro secretariado. No total, Doria herdou dez integrantes da gestão golpista de Temer. Na prática, o que se vê é a hipocrisia de quem prometia algo e entregou o oposto: o tucano afirmava que em seu governo não caberia mais “a velha política das mordomias, do cabide de empregos, da troca de favores, do desperdício do dinheiro público”.

O coordenador estadual do MTST, Moyses Ribeiro, avalia que “na verdade, o governo Doria vai fazer uma disputa com o governo Bolsonaro para se saber quem é a continuidade do governo Temer, com seu legado de 2% de aprovação. Ao mesmo tempo, Doria já declarou que defenderá o governo Bolsonaro nas pautas que interessam a ele e ao PSDB, sem perder de vista seu plano de ser o candidato da elite em 2022”.

Os nomes do novo séquito de Doria legados de Temer: Antonio Imbassahy (secretário especial e chefe do escritório do governo paulista em Brasília);  Henrique Meirelles (Fazenda — e, também, ex-candidato à Presidência da República pelo MDB); Aloysio Nunes (diretor da Investe SP); Rossieli Soares (Educação); Sérgio Sá Leitão (Cultura); Alexandre Baldy (Transportes Metropolitanos); Vinicius Lummertz (Turismo); Antonio Claret Oliveira (ex-presidente da Infraero e diretor do Departamento Aeroviário do Estado de São Paulo) e Nelson de Souza (ex-presidente da Caixa Econômica Federal, chefe de grupo de três estatais de São Paulo).

Secretariado réu na Justiça

O destaque na lista de ex-ministros de Temer que arrumaram uma ‘vaguinha’ fica para Gilberto Kassab (Casa Civil), que se afastou do novo cargo já em 4 de janeiro para se defender de denúncias de corrupção. Kassab (PSD) é acusado de ter recebido R$ 21 milhões em caixa dois durante a sua campanha para prefeito de São Paulo, em 2008.

Para completar, para a presidência do metrô, Doria nomeou outro réu que integrou o governo Temer: Silvani Alves Pereira, acusado por improbidade administrativa enquanto secretário no município de Serra, no Espírito Santo.

Escola Sem Partido

Na onda que tanto convém para seu modelo neoliberal de estado mínimo, ainda durante a campanha, Doria afirmou ser favorável ao projeto “Escola Sem Partido” — também defendido por Bolsonaro. O projeto ataca a liberdade de atuação de professores e educadores, sob o pretexto de combater uma suposta doutrinação ideológica.

Embora o projeto tenha sido arquivado na Câmara Federal, onde o tema poderia ser validado nacionalmente, os ideais do “Escola Sem Partido” continuam com espaço de discussão e ação em âmbito estadual e municipal. Recentemente, temos visto casos de professores e professoras denunciados por simplesmente citarem pensadores libertários, como o ícone da educação nacional Paulo Freire.

Pacote de privatizações e cartilha do Neoliberalismo

Assim como fez na capital paulista, Doria deve avançar nas privatizações, o que acarretará na consequente precarização e terceirização de postos de trabalho. Ele já articula um amplo programa com parcerias público-privadas, concessões e convênios para rodovias, portos, aeroportos regionais e balsas.

Segundo João Doria, o ex-ministro de Temer, Henrique Meirelles, agora secretário da Fazenda do Governo de São Paulo, deve comandar “um amplo programa de desestatização” que inclui, além da Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp) e do porto de Santos, a Sabesp, aeroportos regionais, o porto de São Sebastião, ferrovias e hidrovias estaduais.

Mais do mesmo

De qualquer forma, trata-se de mais uma estratégia para bajular empresários e políticos aliados aos velhos esquemas de poder das elites. Moyses Ribeiro lembra que “o que vimos do Doria prefeito foi todo um discurso de que não era político, de que iria fazer diferente, mas que em dois anos caiu por terra. E os paulistanos perceberam que ele era farinha do mesmo saco de onde vêm todos os políticos que estão desde sempre no poder.”

O que vem por aí

A reação dos movimentos sociais será de vigilância, resistência e combate. “Há um novo desafio, para além do aumento da tarifa, que são as obras paralisadas da Linha Laranja do metrô. Essa cartilha no neoliberalismo, que as elites afirmam como verdade absoluta, vai sendo desconstruída quando obras 100% privadas, como a Linha Laranja, sofrem com a má-gestão e não são finalizadas [já são cerca de 3 anos sem que a construção da nova linha saia do papel]. Na prática, os trabalhadores são os prejudicados. Então vamos ter muita resistência nesses anos de governo Doria. E a grande pergunta é saber se ele vai governar ou se só vai fazer campanha presidenciável nesse próximos quatro anos.”