Logo do MTST
  • Instagram
  • Facebook
  • Twitter
  • Youtube
  • Tik Tok

Revogar retrocessos de Temer é ponto de partida para o Vamos!

29 de agosto de 2017
Série de debates com plataforma virtual vai discutir e acolher sugestões para projeto de aprofundamento da democracia convocado pela Frente Povo Sem Medo

A Frente Povo Sem Medo lançou neste sábado (26) a plataforma Vamos! que pretende discutir saídas para o Brasil, a partir da construção de um projeto coletivo de aprofundamento da democracia. “Não é possível pensar hoje uma saída popular para o país sem que isso passe decididamente pela revogação de todas as medidas tomadas pelo governo golpista de Michel Temer”, afirmou o o coordenador do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), Guilherme Boulos.

No largo da Batata, zona oeste de São Paulo, Boulos afirmou que o ponto de partida do projeto do Vamos! para sair da crise é o cancelamento de todas as medidas do atual governo, como o teto dos gastos públicos, a reforma trabalhista e a proposta de reforma da Previdência.

“Vivemos uma regressão democrática e ameaças ainda maiores. Se discute, aqui e acolá, a possibilidade do parlamentarismo. A saída que o Congresso Nacional aponta para a crise profunda que vive o país é o distritão.” Diante dessas ameaças, a esquerda não pode defender um sistema político que está falido, diz Boulos, que defende alternativas que vão além de apertar um botão de quatro em quatro anos. “O PMDB nunca elegeu presidente. No entanto, pelos vícios desse sistema, todos os presidentes tiveram que pedir a benção do PMDB.”

“Inicia-se aqui uma trajetória de muito debate, sem sectarismo, com espírito crítico, para tentar pensar um projeto de Brasil. Mais de 500 pessoas dispostas a discutir, debater, lotaram a praça”, disse Boulos à RBA. Também estavam presentes no lançamento a deputada federal Luiza Erundina (Psol-SP), o deputado estadual Marcelo Freixo (Psol-RJ), o vereador Eduardo Suplicy (PT-SP), a líder indígena Sônia Guajajara, a midiativista Dríade Aguiar e o jornalista Leonardo Sakamoto.

Nos próximos dois meses, o Vamos! promove debates em cinco cidades do país para discutir os seguintes eixos temáticos: democratização da economia (Rio de Janeiro), democratização do poder e da política (Porto Alegre), democratização das comunicações e da cultura (Fortaleza), democratização dos territórios e meio ambiente (Belém); e um programa negro, feminista e LGBT (Belo Horizonte). Além dos discussões ao vivo, abertas a todos, o Vamos! também recebe colaborações para cada um dos eixos pela internet.

Suplicy afirmou que é preciso “aumentar o grau de Justiça”, com o desenvolvimento do orçamento participativo, melhor qualidade nos serviços de educação e saúde, estímulo às cooperativas, através do microcrédito, e programas de transferência, como as aposentadorias, o programa Bolsa Família, e a aplicação da Renda Básica de Cidadania, que o vereador que ver contemplado no programa do Vamos!.

O vereador de São Paulo denunciou, ainda, os cortes no Bolsa Família promovidos pelo governo Temer. Segundo ele, o programa, que já atendeu mais de 14,2 milhões de famílias, em meados de 2015, agora atende cerca de 12,7 milhões, com o atual governo.

Erundina disse que, como educadora, se preocupa com o desinteresse do jovem pela política. “Não há outra saída, na transformação e na construção da história, senão por meio da política, com ‘p’ grande.” A deputada disse que São Paulo “é a expressão concreta do retrocesso nacional”, e que o estado, governado há 20 anos pelo PSDB, serve de laboratório para as políticas neoliberais agora adotadas por Temer.

Para Freixo, “a esquerda precisa se olhar com um tanto mais de fraternidade, para aprender a ouvir, aprender a falar, e para aprender a possibilidade de discutir um programa que dialogue com as necessidades reais da maior crise da democracia”. O deputado, contudo, afastou a ideia de que o Vamos! venha a se constituir como partido. “Não tem novo partido. Já temos muitos partidos. O que a gente precisa é fazer com que esses partidos aprendam a dialogar”. Segundo ele, o Vamos! deve servir para ouvir as pessoas.

Ele defendeu a ideia de que o capitalismo não está em crise, mas que o discurso de crise é produzido para “naturalizar” as receitas de corte e austeridade, que servem à manutenção dos privilégios dos mesmos grupos.

“A gente precisa entender que esse capitalismo está muito longe de estar em crise. Essa ordem não nos interessa, nós não aceitamos a naturalidade dessa ordem. A crise do capitalismo é modelo de gestão. É a gestão da austeridade, que é um modo de governar. No lugar da austeridade, a gente coloca o dividir. No lugar da poupança, nós queremos partilhar”, afirmou Freixo.

O deputado do Rio apontou ainda para a contradição de um governo sem nenhuma aprovação, com uma “insatisfação enorme da população”, mas sem grandes mobilizações contrárias. “É um  governo com 95% de rejeição, mas tem pouca gente na rua. Não tem pouca gente lutando, mas tem pouca gente na rua. Onde a gente está errando?”

Freixo disse ainda que o debate de segurança pública não pode ser exclusividade da direita, e que a esquerda deve pensar e apresentar o seu modelo de polícia e demais políticas de seguranças, porque, segundo ele, da insegurança, nasce o fascismo. “Vamos ter que falar de algo que a esquerda não quis falar nos últimos anos, que é a segurança pública. Essa sempre foi uma pauta da direita.

A líder indígena Sonia Guajajara listou retrocessos do governo Temer, como a revogação da reserva indígena dos guaranis no Pico do Jaraguá, em São Paulo, e a extinção da Reserva Nacional do Cobre e Associados (Renca), na Amazônia, entre os estados do Pará e do Amapá, decidida na última quarta-feira (23). “A cada dia que a gente acorda, pode olhar no Diário Oficial que tem uma publicação de retrocesso”.

Sobre a extinção da Renca, liberada agora a novos empreendimentos na área de exploração de minérios, ela lembrou que mineradoras canadenses já haviam sido informadas três meses antes da formalização da decisão pelo governo. “Isso tudo é muito arquitetado.”

Sônia repudiou ainda a proposta defendida pelo governo do chamado marco temporal para demarcações de terras indígenas, em discussão no Supremo Tribunal Federal (STF). “Quando a gente luta dizendo que o Jaraguá é guarani, a gente luta também pela não temporalidade dos povos indígenas. Quem é esse governo para dizer quando é que começa a história dos povos indígenas no Brasil? Que moral, ética e política tem para dizer?”.

Fonte: RBA.

Foto: Mídia Ninja.