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Por que o PSDB é mais fiel a Temer do que o PMDB nas votações na Câmara

26 de abril de 2017

Fonte: Nexo

Foto: Marcos Corrêa/PR

Dois cientistas políticos explicam os motivos do apoio mais consistente do aliado na hora de votar projetos de interesse do governo

Michel Temer assumiu a Presidência da República em maio de 2016 prometendo retomar o crescimento da economia. Para isso, apostou num pacote de reformas que dependem do aval da Câmara e do Senado.

O início de mandato mostrou que Temer contava com um amplo apoio: aprovou, por exemplo, uma mudança importante na Constituição, que impôs um limite de gastos para o governo federal por um período de até 20 anos.

De lá para cá, porém, o cenário vem mudando, inclusive dentro do seu próprio partido, o PMDB, do qual foi presidente nacional por 15 anos.

Embora o número de parlamentares que se dizem aliados ainda seja alto, a instabilidade da base acende um alerta para o governo. Para aprovar a reforma da Previdência, cujo conteúdo é impopular porque mexe na aposentadoria dos trabalhadores brasileiros, são necessários votos de 308 dos 513 deputados (ou três quintos do plenário).

A votação que estabelece uma reforma trabalhista, prevista para ter início nesta quarta-feira (26), portanto, será um teste importante para o Planalto. Por ser um PL (Projeto de Lei), e não uma PEC (Proposta de Emenda à Constituição) como a reforma da Previdência, a aprovação exige um apoio de menos deputados: 257 votos favoráveis (maioria simples).

Fidelidade em tendência de baixa

De acordo com um levantamento do jornal “O Estado de S. Paulo”, o índice de fidelidade dos deputados ao governo federal caiu entre julho de 2016 e abril de 2017. O PSDB foi o partido mais fiel às orientações de Temer sobre como votar, superando o próprio PMDB nesse quesito.

Na atual configuração da Câmara, o partido de Temer tem a maior bancada (64 deputados), seguido pelo PT (58) e pelo PSDB (47). Os tucanos, que tiveram papel fundamental ao lado dos peemedebistas na articulação do impeachment de Dilma Rousseff, representam hoje a principal sigla da base do presidente e chefiam três ministérios. Em troca dos votos de sua bancada, o PSDB também espera que o PMDB apoie um eventual candidato tucano nas eleições presidenciais de 2018.

Dentro do PMDB, há integrantes contrários às reformas do governo, dado o alto grau de impopularidade das medidas. Em resposta ao comportamento de integrantes do partido, já há algum tempo outras legendas da base têm cobrado de Temer que ele faça a bancada do seu partido fechar voto (todos votam da mesma maneira e não cada um por si) em favor das propostas.

Ao Nexo, dois cientistas políticos analisam a fidelidade dessas legendas na Câmara. São eles:

  • Carlos Melo, cientista político e professor do Insper
  • Manoel Santos, cientista político e professor da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais)

Por que o PSDB tem sido mais fiel que o PMDB na Câmara?

CARLOS MELO O PSDB tem alguma conexão ideológica com as reformas, muito em razão da sua experiência de governo, com Fernando Henrique, e também pelo ideário econômico da legenda. O eleitor médio deles talvez tenha concordância com essa agenda de reformas. Além disso, o PSDB, acreditando que o próximo governo será seu [se vencer as eleições em 2018], sabe que será melhor e mais fácil se o ambiente econômico for saneado agora.

O PMDB, por sua vez, já é todo guiado pelo pragmatismo eleitoral, sem ideologia. O pensamento deles é “quantos votos isso dá e quantos pode tirar”. E, claro, as reformas têm um componente complicado por ferir interesses de grupos mobilizados e que pode ter consequências eleitorais. O PMDB, pragmático que é, não se compromete.

Tenho impressão que no Senado (em que pese a figura do senador Renan Calheiros, que recentemente se opôs a Temer), o partido [PMDB] atua de forma mais coesa. É uma bancada formada por políticos mais experientes, com mais estatura e que têm mais consciência do papel desempenhado ali.

MANOEL SANTOS A postura do PSDB está relacionada à sua sobrevivência. O partido teve papel de protagonista no impeachment de Dilma e acho que os tucanos estão sendo mais racionais agora. A agenda de reformas também é compatível com a agenda do PSDB. Em tese, aprovar as reformas reverbera positivamente em toda a coalizão, já que pode trazer certo dinamismo para a economia. Mas a questão é o custo das reformas a certos segmentos.

O PMDB tem um complicador pelo fato de não haver um só PMDB. Ele é dividido, é um partido que não marcha unido. O próprio Temer nunca foi uma liderança unânime. Seus integrantes são mais orientados à sua própria sobrevivência eleitoral, daí a dificuldade de administrar os parlamentares.

Toda essa instabilidade política acaba afetando o ambiente como um todo, e o PMDB está no epicentro de toda essa crise, com lideranças envolvidas na Lava Jato, por exemplo. Fica mais difícil administrar as expectativas de todo mundo que compõe a coalizão.

Para Temer, quais os reflexos do comportamento do PMDB?

CARLOS MELO Complica muito a vida dele. Aliás, ocorre agora o que o próprio PMDB falava do PT, quando Dilma Rousseff era presidente e queria votar seu pacote econômico [que enfrentava resistência entre os petistas]. “A gente vai lá, vota e o PT faz manifestação contra?”. Ou seja, é um mau exemplo para os demais partidos da base, que vão se sentir desobrigados a votar com o governo.

Se a agenda é impopular e inevitável, quem tem que arcar com o ônus é sobretudo o partido do presidente da República, até para que ele possa pedir sacrifícios para os outros aliados. Sem a própria legenda, a negociação se desloca do campo dos partidos para uma negociação individualizada, deputado a deputado. Isso sai muito caro.

MANOEL SANTOS O PMDB é sempre mais difícil de lidar e isso tem um peso na administração da coalizão, já que pode contaminar os demais partidos. Nesse contexto de fragmentação partidária e de individualismo parlamentar, essa dificuldade se acentua e exige uma barganha ainda mais complexa para conseguir apoio em votações.

A despeito de agora o presidente da República ser um correligionário, o fato é que partidos não mudam da noite para o dia, eles têm um certo DNA. Mas acho que aquelas características do PMDB se agravaram nos últimos anos, em parte em função desse cenário de instabilidade atual.