Pelo direito à moradia, Mandela resnasce
Fonte: Jornalistas Livres
Por Ana Haddad, Fabiana Ribeiro e Geisa Marques
A Ocupação Mandela, em Campinas, voltou a ocupar um terreno ocioso há décadas, depois de ter sofrido reintegração de posse no dia 28 de março de 2017
“E o Mandela, daqui a aproximadamente uma hora, renascerá de novo”. Essa foi a constatação de Eunice, uma das coordenadoras da Ocupação Nelson Mandela, em Campinas, a 1h58 da madrugada de sexta-feira (21). Naquele momento, ela passava as instruções que precederam a saída das famílias rumo ao terreno a ser ocupado.
O local escolhido pela comunidade fica numa região industrial de Campinas, no distrito de Ouro Verde, periferia da cidade. Nas proximidades do bairro Jardim Nossa Senhora Aparecida, que está em processo de regularização fundiária, a propriedade de 300 mil m² – equivalente a cerca de 30 campos de futebol – é uma área agrícola localizada no perímetro urbano do município, há décadas inutilizada e sem cumprir nenhuma função social.
HISTÓRICO
Anteriormente, os moradores e moradoras da Ocupação Mandela foram despejados de suas residências no dia 28 de março deste ano, após reintegração de posse da área localizada no Jardim Capivari, em Campinas. Cerca de 600 famílias ocupavam a área inutilizada há 44 anos, desde julho do ano passado. Não é a primeira reintegração de posse enfrentada pela Comunidade. Em agosto de 2016, a Polícia Militar já havia realizado uma ação que retirou 30 famílias do local, que retornaram à área logo em seguida.
NOITE ADENTRO
A maratona até a consolidação da ocupação foi longa. Começou na manhã de quinta-feira (20), quando a coordenação do movimento, junto à rede de apoio, articulou procedimentos durante o todo dia para serem adotados durante a ocupação do novo terreno.
No início da noite as famílias já se encontravam em um ponto base, para mais tarde seguirem rumo ao novo espaço de ocupação.
Atentos às instruções, que eram reforçadas periodicamente por pessoas da coordenação, os moradores e moradoras se organizaram em equipes. Alguns ficaram responsáveis pela segurança, outros pela construção dos barracos e um terceiro grupo pela alimentação.
Por volta das 2h30, as famílias começaram a organizar os pertences nos ônibus para seguir em direção ao terreno. Após um percurso por vias asfaltadas, o acesso a uma estrada de terra indicava que o destino estava próximo.
Já passava das 3h30 da manhã quando os primeiros pontaletes de madeira começaram a ser fincados no chão. Pouco a pouco, sem muita demora, surgiram as primeiras cabanas de lona no terreno, até então inutilizado. A chuva que caiu no início da manhã na região não foi empecilho para o trabalho, que seguiu durante todo o dia.
MANDELA RENASCE COM FORÇA
A comunidade trabalha incansavelmente na reconstrução da Ocupação Nelson Mandela. As 200 famílias começam a ocupar a área, cerca de 60 famílias já estão instaladas no terreno e trabalham em mutirão auxiliando as outras que estão chegando.
As famílias recebem o apoio da população por meio de doações, voluntários de diversas áreas auxiliam e dão assistência às famílias. Mutirões solidários constroem os barracos e começam a construir os banheiros comunitários.
A Ocupação Nelson Mandela mostrou que está mais viva do que nunca, com a certeza de que enquanto houver famílias sem moradia e áreas que não cumprem função social, existirá, também, ocupação, resistência e luta.
“Nenhum poder na Terra é capaz de deter um povo oprimido, determinado a conquistar sua liberdade” (Nelson Mandela, 1961).
Mandela resiste!