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Marcha das Mulheres Negras em São Paulo pede fim do genocídio do povo negro

26 de julho de 2018

Ato deste ano teve como lema ‘Por nós, por todas nós e pelo Bem Viver’ e reuniu centenas de pessoas no centro da capital paulista

Foto por Daniel Arroyo/Ponte Jornalismo

“Quando uma mulher negra avança, ninguém fica pra trás.” Esse era o grito que ecoava por volta das 18h na praça Roosevelt, no centro de São Paulo. Centenas de pessoas se reuniram para a Marcha de Mulheres Negras nesta quarta-feira (25/7), dia Internacional da Mulher Negra Latino Americana e Caribenha e Dia Nacional de Tereza de Benguela (líder quilombola).

Participante da Marcha segura cartaz com o lema do ato deste ano | Foto por Daniel Arroyo/Ponte Jornalismo

Com o lema “Por nós, por todas nós e pelo Bem Viver”, a marcha seguiu pela rua da Consolação até a biblioteca Mário de Andrade com canções, danças e com falas de mulheres negras que tratavam sobre diversidade e necessidade de políticas públicas que promovam a melhora da vida da população negra.

Foto por Daniel Arroyo/Ponte Jornalismo

Dentre algumas das exigências das mulheres negras que estavam presentes no ato está a legalização do aborto, o fim do genocídio do povo negro e o fim da falaciosa ‘guerra às drogas’, que encarcera majoritariamente pessoas negras.

Algumas vítimas também foram lembradas em discursos, cartazes e camisetas. A vereadora Marielle Franco, morta em março deste ano, Luana Barbosa, espancada por policiais até a morte em Ribeirão Preto, há dois anos, Claudia Ferreira, arrastada por uma viatura no Rio, Amarildo Dias de Souza, desaparecido depois de uma abordagem policial na Rocinha, e Marcos Vinicius, assassinado com um tiro dentro da escola durante operação policial na Maré, foram alguns deles.

Segundo a jornalista Juliana Gonçalves, integrante da Marcha das Mulheres Negras de São Paulo, as pessoas presentes no ato querem colocar as questões das mulheres negras na centralidade da luta política do Brasil. “A gente não é objeto de política pública”, diz.

Juliana Gonçalves participa da articulação da Marcha das Mulheres Negras | Foto por Daniel Arroyo/Ponte

“Quando vai se desenhar uma política pública para a população negra, ela acaba não fazendo o recorte de gênero. Quando é para as mulheres, não se faz um recorte de raça. E a mulher negra fica nesse limbo”, afirmou a jornalista à Ponte Jornalismo.

Segundo ela, é importante lembrar que estamos em um ano eleitoral e é importante que os candidatos tragam como pauta o combate ao genocídio e ao feminicídio. “A gente quer deixar de morrer e isso tem que ser uma pauta primordial para todos os partidos, mas não é”, constata.

Foto por Daniel Arroyo/Ponte Jornalismo

Ser mulher negra

Segundo Juliana, ser mulher negra no Brasil é ter um legado de luta e de história que é negado. “Eu tive que correr atrás de quem eu era, de onde eu vim. Eu não descendo de escravos. Eu descendo de reis e rainhas africanos que foram capturados e tiveram seus direitos vilipendiados”, afirma.

Foto por Daniel Arroyo/Ponte Jornalismo

Para a profissional de hotelaria Tawane de Oliveira Silva, 20 anos, ser mulher negra é ter que provar, todos os dias, que você é inteligente. “As pessoas duvidam da nossa inteligência”, afirma e ressalta a importância de entender que as mulheres negras não são necessariamente sensuais ou barraqueiras. “Eu, por exemplo, sou extremamente tímida”, diz.

Segundo ela, é uma luta diária para mostrar que as mulheres negras não estão encaixadas em estereótipos e também um caminho árduo para se empoderar. “Você precisa se conhecer todos os dias”, relata.

Foto por Daniel Arroyo/Ponte Jornalismo

A estudante de moda Gabriela Alves, 23 anos, também afirma que foi um processo para se reconhecer como negra. “Eu me descobri como mulher negra há aproximadamente três anos com o rap. Quando eu assumi meu cabelo eu falei ‘eu sou uma mulher negra e tenho que me posicionar’”, relembra.

Segundo ela, é preciso que tenham marchas para que as mulheres se sintam mais unidas e acabem com a ideia de competitividade entre elas. Além disso, Gabriela ressalta que é cada vez mais urgente a discussão sobre o colorismo: “Eu, negra de pele clara, não sofro o mesmo preconceito que uma mulher negra com o tom mais escuro”, afirma.

Ialorixás participam da marcha para lembrar a importância das religiões de matriz africana na construção da identidade do povo negro | Foto por Daniel Arroyo/Ponte Jornalismo

A assistente social Claudia Menezes, 53 anos, diz que ser mulher negra no Brasil, para ela, é um motivo de orgulho. “Quando eu era criança eu sofria bullying e discriminação por ser uma criança negra e pobre. Mas, depois você cresce, começa a estudar e começa a abrir os seus olhos e perceber o quanto você é importante”, afirma.

A união das mulheres negras de diferentes gerações na marcha | Foto por Daniel Arroyo/Ponte Jornalismo

A gerente comercial Carmem da Silva Ferreira, 58 anos, que também é liderança do movimento sem teto do centro acrescenta a ideia de Claudia dizendo que é preciso reconhecer as suas raízes. “Quando eu nasci, apagaram da minha certidão de nascimento a minha etnia e botaram uma cor inventada. Porque me chamam de parda?”, questiona.

Foto por Daniel Arroyo/Ponte Jornalismo

 

 

Por Giorgia Cavicchioli

Fonte: Ponte Jornalismo