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Incêndio no Museu Histórico Nacional | Entenda a origem do desmonte do Museu Nacional e sua tragédia

3 de setembro de 2018

Desde 2004, há relatos de irregularidade no local. A instituição chegou a fazer uma vaquinha virtual para reabrir uma das salas do acervo

Instalação elétrica é advertida desde 2004 | Foto por Tânia Rego/Agência Brasil

O incêndio no Museu Nacional (MN), no Rio de Janeiro, na noite do domingo 2, que em poucas horas atingiu um imenso patrimônio cultural e cientifico de diversas áreas, é o efeito trágico da sucessão do descaso do poder público pela História, e que levou ao desmonte de um dos mais importantes espaços de conhecimento do País.

Embora recursos para o Ministério da Cultura tenham sido cortados durante a gestão de Michel Temer, não é de hoje que o local apresenta más condições. Há 14 anos, fiscais já atestavam as condições precárias do museu. Entenda abaixo:

Desde quando há notícias de má conservação do museu?

O desinteresse pelo espaço antecede os recentes cortes do investimento público. Já em 2004, o então secretário de Energia, Indústria Naval e Petróleo do Rio de Janeiro, Wagner Victer, atestou diversas irregularidades durante visita que fez ao MN em novembro daquele ano.

O secretário disse ter ficado impressionado com a situação das instalações elétricas que, segundo ele, já estavam em estado deplorável. “O museu vai pegar fogo. São fiações expostas, mal conservadas, alas com infiltrações, uma situação de total irresponsabilidade com o patrimônio histórico”, disse na época o secretário à Agência Brasil.

Victer levou o problema ao Conselho Estadual de Cultura, para que medidas urgentes fossem tomadas. O diretor do museu neste momento, Sérgio Alex Azevedo, reconhece que a situação elétrica já era realmente bastante complicada.

Segundo Alex, a desproteção já durava 40 anos e se agravou nas décadas 1980 e 1990 por causa do descaso e da demora de liberação de verbas.

O laudo de 204 foi encaminhado aos Ministérios da Educação, da Cultura e de Ciência e Tecnologia, que prometeram uma verba de 40 milhões de reais para uma reforma no prédio.

Havia um plano para revitalizar o museu?

Em junho, a direção do museu tinha garantido um investimento de 21 milhões de reais do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para a revitalização do prédio histórico, incluindo o acervo e espaços de exposição.

Uma parcela do dinheiro seria liberada antes, para viabilizar a retirada de produtos inflamáveis do prédio, como animais mantidos em frascos como álcool e formol. De acordo com o diretor-adjunto, parte desse acervo inflamável já tinha sido retirado, mas outra parte ainda estava no interior do museu. Procurava-se um local adequado para armazenar esse material até que o prédio fosse reformado.

Qual era o repasse público para a instituição?

Apesar do prestígio, a primeira instituição científica do Brasil vinha sofrendo cortes em seu orçamento nos últimos anos e, desde 2014, não recebia a verba de 520 mil reais anuais necessária para sua manutenção.

Naquele ano, foram repassados apenas 427 mil. Nos anos seguintes, 257 mil em 2015, 415 mil em 2016, 246 mil no ano passado e apenas 54 mil até abril deste ano. Sua estrutura apresentava sinais visíveis de má conservação.

O corte no orçamento resultou em exibições canceladas e infestações de cupins, além de um breve período fechado, em 2015, por atraso de pagamentos aos funcionários.

Em maio deste ano, a instituição deveria receber um repasse anual de R$ 550 mil, o museu, contudo, só vinha recebendo 60% do valor.

Por que o museu abriu uma vaquinha virtual?

A situação levou a instituição a abrir uma “vaquinha virtual” para levantar recursos e reabrir uma das salas de acervo, onde ficava Maxakalisaurus (também conhecido como Dino Prata), o primeiro dinossauro de grande porte montado no Brasil, com esqueleto de 13 metros de comprimento.

Sucesso de público quando ficou aberto para visitas, em 2006, o fóssil acabou relegado quando a exibição foi suspensa em 2017, por um ataque de cupins à estrutura de madeira que o sustentava. Dino Prata acabou desmontado e guardado em caixas.

Alunos do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social da universidade, que atuam no museu, chegaram a criar memes em que mostravam fósseis à espera de verba, ironizando os cortes, quando, na época, a previsão era a de que só se receberia 25% do Orçamento previsto para pesquisa no ano.

Em fevereiro deste ano, Alexander Kellner, diretor do museu, reclamou ao jornal O Globoda falta de verba para a manutenção do local. “Felizmente essas pragas [morcegos e gambás] não têm aparecido no acervo, mas ainda podem ser vistas nas áreas comuns. O maior problema são as goteiras. Ficamos preocupados quando cai uma tempestade porque só temos verbas para medidas paliativas de prevenção”, disse.

Que peças integravam o acervo do museu?

Com 20 milhões de peças e documentos, tratava-se do quinto maior museu do mundo em acervo. Suas obras contavam uma parte importante da história antropológica e científica da humanidade. Talvez o exemplo mais emblemático seja o fóssil com mais de 11 mil anos de Luzia, a mulher mais antiga das Américas, cuja descoberta nos anos 1970 reorientou todas as pesquisas sobre a ocupação da região.

O que diz o Minc?

O ministro da Cultura, Sérgio Sá Leitão, classificou como “imensa tragédia” o incêndio no Museu Nacional do Rio e disse que o dia é de “luto”. Em nota, ele lembrou que o local é vinculado à Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e que reúne um “acervo fabuloso”.

“Tenho procurado ajudar a instituição desde que entrei no MinC. O Instituto Brasileiro de Museus realizou diversas ações”, informa a nota, onde lamenta que “aparentemente vai restar pouco ou nada do prédio e do acervo exposto. A reserva técnica não foi atingida. É preciso descobrir a causa e apurar a responsabilidade”.

O ministro da Cultura, Sérgio Sá Leitão, classificou como “imensa tragédia” o incêndio no Museu Nacional do Rio e disse que o dia é de “luto”. Em nota, ele lembrou que o local é vinculado à Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e que reúne um “acervo fabuloso”.

 

 

Fonte: Carta Capital