Governo Trump planejou um golpe contra a Venezuela em 2017, reporta New York Times
Investigação jornalística aponta que representantes dos EUA se reuniram com militares dissidentes para planejar um golpe
A derrubada do presidente venezuelano, Nicolás Maduro, foi tema de reuniões secretas entre representantes do governo do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e militares dissidentes venezuelanos, ao longo de 2017 e início deste ano. Isso é o que reportou o jornal estadunidense The New York Times, no último sábado (8).
A reportagem do periódico ouviu 11 funcionários e ex-funcionários do governo dos EUA e um ex-comandante militar venezuelano. Segundo a publicação, entre os militares dissidentes ouvidos pelo governo de Trump está pelo menos um que consta na lista de funcionários venezuelanos corruptos sancionados pelos EUA. O comandante em questão foi acusado por Washington de crimes que vão de tortura a tráfico de drogas.
O perfil do militar contrasta com a nota que a Casa Branca enviou à reportagem do jornal de que as reuniões foram importantes para abrir “um diálogo com todos os venezuelanos que demonstram um desejo de democracia”.
A abordagem dos dissidentes ao governo estadunidense ocorreu em meio a uma declaração de Trump, em agosto do ano passado, que disse que os EUA tinham uma “opção militar” para a Venezuela.
O apoio buscado por setores dos militares venezuelanos se daria por meio do fornecimento, por parte dos EUA, de rádios encriptados para que se comunicassem em sigilo enquanto desenvolviam um plano para promover a derrubada de Maduro e um novo governo no país. Contudo, os representantes dos EUA decidiram não ajudar os conspiradores, e o planejamento desse golpe não seguiu adiante.
De acordo com o New York Times, “a disposição do governo Trump de reunir-se várias vezes com oficiais amotinados e dispostos a derrubar um presidente da região pode ter efeito político inverso ao desejado”, pois isso reforça as declarações de Maduro que apontam que o governo dos EUA tem intenções imperialistas na região e planejam uma intervenção militar na Venezuela.
Ainda que o acordo não tenha vingado, o historiador Peter Kornbluth, do Arquivo de Segurança Nacional da Universidade George Washington, em declaração publicada pelo New York Times, entende que as reuniões secretas teriam cumprido um papel de indicar uma aprovação tática dos EUA aos planos dos conspiradores.
“A simples presença de um representante dos EUA em uma reunião dessa natureza provavelmente seria interpretada como um incentivo”, disse Kornbluth.
Outros fatos que demonstram tentativas de derrubar o governo de Maduro podem ser listadas nos casos do ataque aéreo contra a sede do Tribunal Supremo de Justiça e a sede do Ministério de Interiores, Justiça e Paz, em junho de 2017; além do atentado à bomba durante as comemorações dos 81 anos da Guarda Nacional Bolivariana, onde estava presente Nicolás Maduro, em agosto deste ano.
A mais emblemática tentativa de derrubar os governos bolivarianos foi o golpe de 2002, contra o ex-presidente Hugo Chávez, que completou 16 anos no último 13 de abril.
Ao final da reportagem investigativa, o próprio New York Times aponta: “Seja qual for a lógica, manter discussões com golpistas pode fazer soar alarmes em uma região que tem uma lista de intervenções infames: a invasão fracassada da Baía dos Porcos em 1961, promovida pela CIA com o intuito de derrubar Fidel Castro como líder de Cuba; o golpe de Estado no Chile em 1973, que teve o apoio dos EUA e deslanchou a longa ditadura militar de Augusto Pinochet; o apoio sigiloso dado pela administração Reagan aos rebeldes de direita conhecidos como ‘contras’ nos anos 1980 na Nicarágua.”
Fonte: Brasil de Fato