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França admite que Exército torturou civis durante guerra de independência da Argélia

18 de setembro de 2018

Declaração histórica citou caso do matemático comunista Maurice Audin, que desapareceu durante luta pela independência; é a primeira vez que um líder francês culpa Forças Armadas

Emmanuel Macron irá visitar a viúva do matemático comunista Maurice Audin, que foi torturado e executado pelo Exército francês em 1957 | Foto por Victor Tonelli/OCDE

O presidente francês, Emmanuel Macron, reconheceu nesta quinta-feira (13/09) que o Exército utilizou métodos de tortura durante a guerra de independência na Argélia. O discurso mencionou o caso do matemático comunista Maurice Audin, detido em junho de 1957 por tropas francesas, e que foi “torturado e executado por militares que o buscaram em seu domicílio”.

Segundo o Palácio do Eliseu, “o desaparecimento [de Audin] só foi possível com um sistema que permitiu a aplicação de uma lei que prendesse, detivesse e questionasse” qualquer civil “suspeito”. O texto também mencionou que Macron “decidiu que era hora de a nação fazer um trabalho de verdade sobre esse assunto”.

Com a decisão, o presidente se tornou o primeiro líder do país a reconhecer publicamente os crimes de guerra no confronto em território argelino. Outros governantes apenas fizeram menções ao episódio, como o ex-presidente François Hollande que, em 2014, contestou a versão oficial de que Audin havia fugido da prisão, afirmando que a vítima havia sido assassinada.

A última vez em que um chefe de Estado francês admitiu culpa em episódios de guerra foi em 1995, quando o então presidente Jacques Chirac pediu desculpas publicamente pela participação da França nos crimes do Holocausto, durante a Segunda Guerra.

O governo francês também entregará uma carta de Macron à viúva do matemático, Josette Audin, de 87 anos. A missiva fala que o caso do argelino “trouxe à tona” um “terreno de atos terríveis” e que, com o reconhecimento formal do papel das Forças Armadas nos crimes de guerra, é possível honrar “todos os franceses, civis ou militares, que desaprovaram a tortura” e “que, ontem e hoje, recusam qualquer elo com aqueles que a praticaram”. O Eliseu comunicou que o presidente fará uma visita a Josette Audin.

A guerra pela independência 

A Argélia foi colonizada pela França em 1830, mas o conflito pela libertação do território argelino só ocorreu entre 1954 e 1962. A disputa principal foi entre o partido Frente de Libertação Nacional (FLN) e o Exército francês.

Com dois anos de luta armada, o Parlamento francês deu ordem para que as Forças Armadas retomassem a ordem no país, concedendo autonomia policial a membros do Exército. A partir do decreto, houve um aumento no número de civis desaparecidos, fato que teve “fins políticos”, segundo a recente declaração do governo da França.

 

 

Fonte: Opera Mundi