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Ex-ministro de Lula prefere Boulos caso ex-presidente se torne inelegível

31 de julho de 2018
Tarso Genro é ex-ministro e ex-governador do Rio Grande do Sul

Ex-ministro da Justiça e da Educação nos governos de Luiz Inácio Lula da Silva, ex-governador do Rio Grande do Sul e uma das principais lideranças da chamada esquerda petista, Tarso Genro, 71 anos, tem defendido que o PT considere o apoio a Guilherme Boulos, pré-candidato à Presidência pelo PSOL, caso a Justiça eleitoral vete a candidatura de Lula, condenado e preso na Lava Jato.

Segundo ele, Boulos é o nome que reúne condições para liderar uma nova frente político-eleitoral de esquerda na era pós-Lula. Indagado sobre a viabilidade de Fernando Haddad, de quem é muito próximo desde os tempos no Ministério da Educação, disse ter dúvidas sobre as chances de o ex-prefeito de São Paulo ser o escolhido do PT.

Conhecido por ser uma das vozes divergentes em relação ao estabilishment petista, Tarso, que hoje comanda o Instituto Novos Paradigmas, argumenta que a defesa do eventual apoio a Boulos não representa risco à estratégia segundo ele acertada de manter a candidatura de Lula, pois se trata de um nome de fora do partido, enquanto a defesa explícita de Haddad, neste momento, poderia desestabilizar a unidade partidária.

Em entrevista ao Estado, Tarso defende ainda que o PT escolha logo, até a convenção do dia 5 de agosto, o candidato a vice e disse que o acordo entre o Centrão e o tucano Geraldo Alckmin obriga uma unidade da esquerda, mesmo que no segundo turno.

 

O sr. tem dito que pode apoiar Guilherme Boulos caso Lula seja impedido.

O que venho dizendo é que Lula é meu candidato e que é o candidato do partido. E é o melhor preparado para tirar o País da crise e, ainda, que devemos sustentar sua candidatura até uma decisão terminativa do Supremo. E venho dizendo, sim, que Boulos e Manuela (D’Avila, do PC do B) são duas alternativas que devemos considerar na hipótese de a candidatura Lula não ser registrada. E mais: que Boulos deu uma demonstração plena de que está preparado, se Lula não for registrado, para liderar uma nova frente política democrática eleitoral, que exclua do nosso meio os resquícios golpistas, que tentarão “compor” com a esquerda se tivermos chance de ganhar.

Isso elimina a chance de apoiar Fernando Haddad?

Não sei se Haddad tem chance de ser candidato no contexto atual. Nem tenho conhecimento de que o partido esteja programando uma discussão sobre isso. Como vivemos um momento especial, no qual a unânime referência do partido é réu preso da “exceção”, falar de uma candidatura do PT que não seja a do Lula seria participar de um jogo de inclusões e exclusões internas que instabiliza a nossa unidade. Quando se comenta, todavia, sobre uma candidatura eventualmente de fora do PT, na verdade está se colocando em pauta questão do sistema de alianças e não a autoridade do Lula.

Por que Boulos?

Por quê, para quê? Pergunto eu, para que não ocorram mal-entendidos. Para mim, ele sinaliza, no momento, uma excelente referência para disputar, no âmbito da esquerda, um novo conceito de frente e um novo paradigma para a unidade, se o presidente Lula for vetado pela “exceção”.

Esse veto esgotaria um ciclo democrático no Brasil de uma maneira solerte e trágica, mas isso nos obrigaria a encarar novas questões politicas, programáticas e organizativas, que se não começarmos agora, poderemos dar livre campo ao fascismo, que já nos espreita bem antes do horizonte.

O PT deve indicar um vice na convenção do dia 4 de agosto?

Creio que sim. Isso facilitaria o nosso debate interno e a tomada de soluções para todo mundo, ainda que em cima do laço, bem como ensejaria uma visão mais clara do sistema do alianças que a cúpula do PT e Lula, principalmente, estão pensando em encaminhar.

A aliança entre Alckmin e o Centrão obriga à união da esquerda?

Sim, esta unidade, que poderá ocorrer no segundo turno, nos ajudará na composição de um sistema de alianças mais autêntico e a explicitar melhor as nossas diferenças com este “novo-velho” bloco de poder, em nova formação, de maneira mais aberta e programática, pois ele é muito identificado, em termos de conteúdo, com o que Temer vem fazendo.

Ciro representa a esquerda?

Sinceramente, gosto do Ciro como quadro político e como pessoa, acho ele um líder corajoso e determinado. Mas acho que, como fez o grande Leonel Brizola quando voltou do exílio, devia, quando a cabeça ficar “quente”, colocá-la um pouquinho no refrigerador. Não estou entendendo muito os movimentos que ele vem fazendo.

 

 

Por Ricardo Galhardo
Fonte: O Estado de S.Paulo