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Enquanto o Canadá avança em relação à maconha, Brasil libera a farra dos agrotóxicos

4 de julho de 2018
Bandeira canadense com folha de maconha: legalização era promessa de campanha de Trudeau | Foto por M. Blinch/Picture Alliance

Alguns critérios podem explicar o que se espera de um País bom para se viver:

– Ele tem de ter Saúde gratuita de qualidade para todos e todas;

– Oferecer Educação pública de primeira linha, permitindo que todas as crianças e jovens tenham chances iguais de desenvolver seu potencial;

– As pessoas têm de ter onde morar, com políticas habitacionais que não deixem parte da população abandonada à própria sorte em moradias improvisadas e precárias;

– Os trabalhadores têm de ser prestigiados, com salários dignos e respeito aos seus direitos;

– E, além disso tudo, é preciso que os políticos se preocupem em trabalhar pelo bem do povo, e não defendendo interesses dos mais ricos e poderosos.

Quando pensamos nestes critérios, alguns países se destacam, enquanto outros ficam vergonhosamente para trás. E nos últimos dias isso ficou bem claro com as notícias sobre avanços ocorridos no Canadá, um país que já se destaca pela ótima qualidade de vida, e os retrocessos no Brasil, que parece andar para trás desde o golpe parlamentar de 2016.

O Canadá virou notícia no mundo todo ao tomar a decisão de liberar o uso da maconha para fins recreativos. Isso significa que os canadenses maiores de idade vão poder consumir maconha assim como fazem com bebidas alcoólicas ou cigarros de tabaco, sem hipocrisia e falsos moralismos. Um avanço notável na política de drogas de um País que já permite, desde 2001, o uso medicinal da cannabis.

O primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau, destacou que a nova lei será um golpe contra os traficantes que ganhavam dinheiro com a proibição da maconha – cada cidadão vai poder cultivar até quatro plantas de maconha para consumo pessoal. “Tem sido muito fácil para os nossos filhos consumirem maconha, e para os criminosos obterem benefícios. Hoje, mudamos isso”, comemorou.

No Brasil, todas as instituições já se manifestaram contra o Pacote do Veneno, que só interessa aos fabricantes | Foto por Asim Hafeez/FAO

No Brasil, por outro lado, a falida política antidrogas é usada para encarcerar em massa jovens e adultos periféricos, pobres, negros e pardos. Com a justificativa de combater o tráfico de drogas, as forças policiais matam livremente nosso povo na periferia das grandes cidades – ao mesmo tempo em que os filhos da elite podem consumir drogas proibidas livremente em suas festas.

E ao invés de discutirmos seriamente uma política de drogas que não reprima o uso de drogas leves, como a maconha, o Brasil vai na contramão e se volta apenas para a repressão cada vez mais selvagem ao consumo. No Rio de Janeiro, por exemplo, a violência alimentada pelo tráfico de drogas é usada como desculpa para uma intervenção militar ilustrada por tanques de guerra nas ruas e abusos contra a população pobre.

O absurdo mais recente foi o assassinato do menino Marcos Vinícius da Silva, de 14 anos, baleado em uma operação policial Complexo de Favelas da Maré quando voltava da escola. A pergunta que ele fez para a mãe antes de morrer é um retrato de como é doente um País onde policiais, pagos pelos nossos impostos, são responsáveis por levar terror e morte para crianças na periferia:

“Mãe, eu sei quem atirou em mim, eu vi quem atirou em mim. Foi o blindado, mãe. Ele não me viu com a roupa de escola?”

Agrotóxicos

Mas os atrasos no Brasil do golpista Michel Temer não se resumem às políticas medievais antidrogas e à intervenção militar. O País do golpe também é o País do agrotóxico, graças à aliança dos grandes latifundiários, indústrias do veneno e políticos reacionários do Congresso Nacional.

Não contentes com o quadro atual de abuso do uso de agrotóxico nas lavouras brasileiras, envenenando nossos alimentos, terras e fontes de água, os deputados estão aprovando a toque de caixa o Projeto de Lei conhecido como PL do Veneno, que vai facilitar ainda mais a aprovação do uso de novas substâncias químicas perigosas nas lavouras do País.

Atualmente, as multinacionais do veneno faturam cerca de R$ 40 bilhões por ano vendendo agrotóxicos no Brasil. E, caso o lobby pela aprovação do “Pacote do Veneno” tenha sucesso, essas empresas vão poder vender pesticidas mesmo que órgãos como a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) não tenham realizado estudos sobre seu impacto na saúde das pessoas.

O apetite dos políticos e ruralistas por agrotóxicos é enorme no Brasil. Mesmo antes da aprovação da PL do Veneno, o País já tem o vergonhoso título de campeão mundial no uso de pesticidas. Para se ter uma ideia, mais de 400 venenos podem ser utilizados no Brasil. E entre os 50 agrotóxicos mais utilizados no País, nada menos que 22 são proibidos em países europeus e lugares como o Canadá. E a cada dia o governo Temer aumenta a lista de venenos presentes nas mesas dos brasileiros.

Proposta torna liberação de novos agrotóxicos mais fácil | Foto: Agência Brasil

E então ficamos assim: enquanto países como o Canadá protegem a Saúde de seus cidadãos do consumo de alimentos repletos de agrotóxicos, no Brasil o governo Temer e os deputados a serviço das multinacionais do veneno e do agronegócio trabalham para prejudicar os brasileiros.

Ao mesmo tempo, sem hipocrisia o Canadá libera o uso recreativo da maconha, seguindo o exemplo de países que descriminalizaram o uso da erva (como o Uruguai e Portugal). Já no Brasil, políticos e apresentadores de rádio e TV fazem suas carreiras com o discurso moralista de combate às drogas e ao crime, fomentando políticas estúpidas que só têm como resultado o aumento da violência e a morte do povo pobre e periférico.

Quem está com a razão?

 

Por Alexandre Costa, Brigada de Comunicação do MTST