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Doria, inimigo do povo | O João opressor e os “Zés Ninguém”

14 de dezembro de 2019
Protesto em Paraisópolis contra a morte de nove jovens durante baile funk, responsabilidade da Polícia Militar de Doria

Digite no Google o nome “João Doria” e logo nos daremos conta da trajetória nobre de João Agripino da Costa Doria Junior. Antes de tudo, cabe deixar claro que a expressão “nobre”, neste caso, não tem nada de elogioso — ao contrário. O sobrenome Doria, de quem atualmente ocupa o cargo de governador do estado de São Paulo, remonta ao passado de uma família ligada à parte do histórico de opressões do Brasil.

Como as linhas acima sugerem, essa visão de mundo está associada aos antepassados de senhores de engenho, uma base familiar determinada a partir de um importante patrimônio, de “posses”, que garantiu oportunidades de altos cargos, estudo de qualidade e uma vida sem preocupações para a família Doria. Esse histórico nos ajuda a entender a trajetória política do governador e sua relação com os marginalizados de nossa sociedade.

Apesar de se vender como novidade, João Doria surgiu para a política nos anos 80, quando (em 1983) foi secretário municipal de turismo da cidade de São Paulo e geriu a empresa estatal Paulistur. Em 1986, foi nomeado presidente da Embratur e do Conselho Nacional de Turismo. Filiou-se ao PSDB em 2001. Pesam sobre ele acusações de, em sua trajetória, incentivar o turismo sexual no período em que presidiu a Embratur, além de ter apoiado publicamente Fernando Collor na campanha presidencial de 1989, e fundado o movimento golpista “Cansei” na década passada.

Compreendido o passado de Doria, vamos tentar entender a recente ascensão do tal “João Trabalhador”. O político — que se dizia “apolítico” — passou de prefeito da capital paulista a governador do estado em um período recorde de três anos e, já na prefeitura, mostrou ao que veio:

  • Instalou telas para esconder pessoas em situação de rua nas grandes avenidas da cidade;
  • Cobriu com tinta cinza importantes obras de arte de rua e, de forma populista, se vestiu de gari sob a justificativa de incentivar o programa “Cidade Linda” — de resultados pífios;
  • Destruiu o evento “Virada Cultural”, que viu seu público diminuir;
  • Sob a justificativa de acabar com a região conhecida por “Cracolândia”, demoliu um abrigo com pessoas dentro e protocolou junto ao Ministério Público um pedido de internação compulsória de usuários de drogas. Na sequência, anunciou o projeto “Nova Luz”, com o objetivo de demolir prédios históricos (onde pessoas moravam) e “modernizar” a região (para a especulação imobiliária);
  • Ordenou o uso de jatos d’água em pessoas em situação de rua. Ao ser questionado, alegou que “foi um descuido”.

Relatamos esse histórico deprimente sem nem mencionar propostas como a distribuição de ração humana (“Farinata”) em escolas da rede pública, ou uso descarado da máquina pública para viagens no Brasil e exterior para campanha antecipada, ou violações de leis de acesso à informação, ou ainda o aumento do limite de velocidade nas marginais — o que resultou no aumento de mortes por acidentes de carros.

Tais medidas levaram sua popularidade a se inverter durante o período de fevereiro de 2017 a abril de 2018: com sua avaliação indo de 44% de “ótimo/bom”, 33% de “regular”, e de 13% de “ruim/péssimo” para 18% de “ótimo/bom”, 34% de “regular”, e 47% de “ruim/péssimo”. Índices que fatalmente o levariam a uma derrota na eleição de 2018 para governador, não fosse o aparato do PSDB no estado, a apatia de seus principais adversários (especialmente Márcio França/PSB) e a conjuntura de criminalização da esquerda, além da perseguição a Lula pela Lava Jato.

O resultado da eleição que elegeu a dobradinha conhecida por “BolsoDoria” serviu como justificativa para Doria agir com truculência igual — e até superior — àquela demonstrada já na prefeitura, tendo como espelho o governo federal de Jair Bolsonaro.

Colocou em prática um conjunto de medidas que criminalizam diretamente a população mais carente, com destaque para a juventude negra e da periferia. O massacre que terminou na morte de nove jovens em Paraisópolis, durante um baile funk, é, na prática, a concretização da promessa de campanha de que a polícia militar teria de “licença para matar”.

As ações ostensivas de seus comandados têm implementado um aprofundamento do genocídio promovido contra negros e pobres, que se vêem indefesos. Além da perpetuação da cultura do genocídio da população periférica, negra e jovem, o governo Doria também promove o desinvestimento em termos de cultura, lazer e educação. E por falar em educação, não é demais apontar a velocidade com a qual este governo implementa a versão paulista da BNCC (Base Nacional Comum Curricular) — o Currículo Paulista, que atinge também a educação básica no nível fundamental II, precarizando ainda mais as condições de trabalho dos professores paulistas.

Professores que precisam extrair energia, coragem e disposição para lutar por inúmeras questões, visto que, todos os dias, lhes são aplicados golpes dos mais diversos. Atualmente, lutam contra a reforma estadual da previdência, a adoção de um novo modelo de carreira que retira direitos históricos e dá as bases para possibilidade de calote aos servidores, além de retirar conteúdo de todas as disciplinas.

A precarização da vida da população periférica é uma realidade. Em São Paulo, que sofre as mazelas da gestão tucana há mais de 20 anos, ainda mais. É cotidiana a notícia de assassinatos sem investigação nem justiça, chacinas, pobreza, falta de acesso à cultura e à educação.

Com Doria, a guerra velada contra o povo preto, pobre e à sua juventude está, a cada dia, perdendo seu caráter silencioso e acobertado. E isso escancara, ainda mais, o perigo que esse homem representa no poder.