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Crônica | Ser Mãe: Entre silenciamentos, ditaduras, abismos sociais à inserção na luta por justiça

13 de maio de 2018

Nas redes sociais, o dia das mães é marcado por postagens, sobretudo, amorosas, dos filhos que, por meio de mensagens e fotos, demonstram um pouco desse laço que nem o tempo pode apagar.

Mas, e quando nos demos conta que, historicamente, incontáveis mães foram silenciadas sejam por golpes, ditaduras ou pela perda de seus filhos de forma brutal e cujo caso jamais será resolvido?

Este texto é uma homenagem a essas mães que, num dia 13 de maio em que ainda lutamos pelo fim da escravidão moderna, resistem pela memória ou por meio de sua caminhada em busca de justiça.

Além dos festejos da data, o mês de maio é marcado por inúmeras manifestações de movimentos sociais que relembram a dor e a luta de mães que foram mortas ou perderam seus filhos como “As mães de Maio”, um movimento em que mães e parentes de vítimas da violência do Estado,em São Paulo, teve sua formação a partir dos chamados Crimes de Maio de 2006. O movimento persiste na missão lutar pela verdade, pela memória e por justiça para todas as vítimas da violência discriminatória, institucional e policial contra a população pobre e negra e a criminalização de movimentos sociais brasileiros, de ontem e hoje.

Podemos somar nesta trajetória de luta por justiça, as chamadas “Mãe de Acari”, no Rio de Janeiro, que se organizaram nos anos 1990 após a chacina em Magé, de 11 jovens que foram sequestradas por um grupo de extermínio. Um das mães que liderava o grupo, Edmea da Silva Euzébio, foi assassinada em 1993.

De acordo com estudos sociológicos, no período de vinte anos após a chacina de Acari, mais de 75 mil pessoas foram mortas ou desapareceram em condições suspeitas e que as vítimas eram, em sua maioria, homens, jovens, na faixa etária de 18 a 24 anos, e moradores de favelas. Fato esse que, em 2018, ainda persiste nas periferias de todo país, o assassinato da juventude pobre e negra. Destaque que “As Mães de Acari” se mostraram na época, e ainda se mostram, como resistência e memórias de seus filhos. Elas fizeram um trabalho árduo de limpeza moral para provar que seus filhos não eram criminosos. E mesmo que fossem, não deveriam sumir ou serem executados, mas sim, terem um julgamento perante à lei.

Durante o período da ditadura militar no Brasil, mulheres e homens foram brutalmente torturados, mortos ou jamais foram encontrados seus corpos, o que perpetuou a dor de mães que desejavam apenas enterra-los, dar-lhes um sepultamento digno e assim realizar o ritual do luto para tentarem seguir suas vidas. Mas da dor nasce a luta e é fato que essas mulheres, mães e, sobretudo, guerreiras, sobrepuseram suas dilacerações emocionais e resistiram em ações de denúncia que até hoje ecoam para que o período não seja esquecido e, principalmente, que jamais se repita, por mais que grupos análogos aos fascistas defendam tal momento sangrento da história nacional.

São mulheres que buscaram seus filhos durante toda a vida, muitas morreram em condições também suspeitas e sem realizar seu grande desejo de justiça, mas que se tornaram protagonistas infinitamente maiores que qualquer torturador e por mais que tentem “endeusa-lo” por serem militares.

Reforçamos nosso texto sobre mães com a superação das LGBTs que resistem contra o preconceito para a criação de seus filhos e o grupo “Mães pela Diversidade” que participa há mais de 10 anos da Parada Gay, em São Paulo e se coloca como rede de apoio para jovens LGBTs. É um movimento formado por mães (e pais) de jovens homossexuais e transsexuais e que também atua na garantia da pressão popular em assembleias legislativas e em órgãos internacionais de direitos humanos, além de organização de eventos e mediação de grupos virtuais em que pais, e seus filhos, possam conversar sobre sexualidade e ser resistência contra os assassinatos brutais e silenciados, principalmente pela mídia.

De acordo com dados estatísticos, em 2017, 445 lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais (LGBTs) foram mortos em crimes motivados por homofobia. O número representa uma vítima a cada 19 horas, no Brasil.

Ser mãe vai, portanto, muito além de uma questão de gênero. Ser mãe demonstra amor, mas também luta e força para vencer dores, silenciamentos, calúnias e, inclusive, o tempo que insiste em tardar a justiça em inúmeros casos. Como nos trechos da música “Alucinação”, de Belchior: “Um preto, um pobre, uma estudante, uma mulher sozinha(…) Pessoas cinza normais. Os humilhados do parque com os seus jornais” (…) São essas pessoas “cinza normais” que a sociedade insiste em rotular, vilipendiar, mas que suas mães lutarão até o último instante pela verdade e, principalmente, por justiça.

Sem dúvida, amor de mãe jamais será vencido pelo tempo, por tortura ou por uma justiça vendida. Para essas mulheres “Amar e mudar as coisas” lhes interessa mais!

Feliz Dia das Mães!

Obs: Uma homenagem a minha mãe, Maria Aparecida, em memória e amor.

 

Por Francis Paula

Fonte: A Postagem