Citado na Lava Jato e com a polícia federal no calcanhar de seu filho, o senador Edison Lobão (PMDB/MA) não se constrangeu em conduzir a sabatina, mas manteve posição discreta e não fez perguntas embaraçosas. Já Renan Calheiros (PMDB/AL), réu no STF por suposta prática de peculato, acompanhou a sabatina no início, mas manteve-se em silêncio e deixou a sala pouco depois de iniciada a sabatina sem fazer perguntas ao sabatinado. Ao que tudo indica sem nenhuma dúvida também.

Preparado para a guerra, o senador Lindbergh Farias (PT/RJ) partiu pra cima de Moraes e pediu que o sabatinado, caso aprovado, optasse por renunciar à função de revisar os processos da Lava Jato no STF, uma das atribuições do novo ministro da Corte. Moraes afirmou que, caso aprovado, atuará com independência e imparcialidade e que jamais para favorecer políticos.

Afago tucano

A olhos vistos, os senadores tucanos Aécio Neves (MG) e Aloysio Nunes (SP), ambos candidato e vice derrotados nas eleições presidenciais de 2014, compuseram na CCJ a defesa intransigente de Moraes. A dupla não deixava passar batido críticas a ele e, sempre que podiam, elogiavam a postura do indicado. “É natural na vida republicana que um indicado para o STF tenha afinidades com um determinado grupo político”, ponderou Aécio, lembrando que esse tipo de indicação é comum nos Estados Unidos.

Ninguém interpôs Aécio para relembrá-lo, no entanto, que o processo de indicação para Suprema Corte dos Estados Unidos é bem diferente do brasileiro. Lá, o indicado tem a vida vasculhada de ponta-cabeça, inclusive por órgãos de inteligência, para depois passar por sabatinas duríssimas que chegam a durar dias. Não é como aqui, esse teatro escancarado que compõe a essência política brasileira.

Aécio ainda lembrou que Moraes fora advogado do senador em 2014, na época da campanha presidencial, e que, por tabela, ambos acabaram derrotados. No ano seguinte, Moraes se filiou ao PSDB, de onde saiu após a ser indicado por Temer para o Supremo.

“Tenho a mais absoluta convicção de que Moraes assumirá suas tarefas no STF com a isenção que o cargo exige”, disse Aécio. Para amarrar a manifestação tucana, Aloysio Nunes atacou, disse que a oposição já estava chovendo no molhado, repetindo perguntas para tentar constranger o sabatinado, mas que, apesar disso, Moraes “tirou de letra”.

Carnaval é tempo de folia

Com a pressa que lhe é devida, a determinação no Planalto foi para aprovação de Moraes no STF antes do Carnaval. E assim foi feito. As excelências correram para comemorar o feriado com tranquilidade e alguns dias com o “sono dos justos”.

Mas por que o Carnaval marca esse lapso temporal importante? Porque o Brasil só funciona mesmo depois dessa época? Sim, mas também porque, após o carnaval o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, sinalizou que irá retirar o sigilo das bombásticas delações da Odebrecht e poderá iniciar pedidos de inquéritos contra os citados, entre eles membros do governo Temer.

Para entender a política brasileira, basta seguir os rastros. Eles são muitos. A pressa é uma delas por questão de sobrevivência política.