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Capitalismo | Marca de luxo queima roupas, perfumes e acessórios no valor de R$ 446 milhões

24 de julho de 2018
Marcas de luxo lidam com excesso de estoques | Foto: Getty Images

A Burberry, famosa marca de moda de luxo britânica, incinerou roupas, acessórios e perfumes não vendidos no valor de 28,6 milhões de libras – o equivalente a R$ 141,7 milhões – no ano passado para preservar a marca.

Nos últimos cinco anos, o valor total de produtos destruídos pela Burberry ultrapassa 90 milhões de libras – R$ 446 milhões.

Empresas de moda costumam destruir mercadorias encalhadas para impedir que sejam furtadas ou vendidas por baixo preço.

A Burberry diz que o gás carbônico emitido com a queima dos produtos foi compensado, tornando a ação “ambientalmente sustentável”.


Desperdícios na moda de luxo

“A Burberry tem procedimentos cuidadosos para minimizar o excesso de estoque que produzimos. Nas ocasiões em que o descarte de produtos é necessário, fazemos isso de maneira responsável e continuamos a buscar formas de reduzir e revalorizar nosso lixo”, disse um porta-voz da companhia.

A empresa afirmou que o ano passado foi atípico, pois teve de destruir uma grande quantidade de perfumes após assinar um contrato com a companhia americana Coty.

Como a Coty produziu novos estoques, a Burberry resolveu descartar 10 milhões de libras em produtos velhos – principalmente perfumes.

Nos últimos anos, a Burberry tem se esforçado para tornar a marca exclusiva outra vez após um período em que falsificadores “colocavam a etiqueta da Burberry em tudo o que podiam”, disse Maria Malone, que dá aulas sobre a indústria da moda na Manchester Metropolitan University.

E destruir produtos indesejados é parte desse processo, segundo ela.

“Eles estão fazendo isso para que o mercado não seja inundado por promoções. Eles não querem que os produtos da Burberry caiam nas mãos de quem possa vendê-los com desconto e desvalorizem a marca”, disse Malone.


Custos ambientais da indústria da moda

A Burberry não é a única empresa a lidar com excesso de estoques de luxo.

A Richemont, dona das marcas Cartier e Montblanc, teve de recomprar relógios no valor de 480 milhões de euros (R$ 2,1 bilhões) nos últimos dois anos.

Analistas dizem que parte dos relógios seria reciclada – e o restante, jogado fora.

Ambientalistas reclamam do lixo gerado.

“Apesar de seus altos preços, a Burberry não demonstra respeito por seus próprios produtos, pelo trabalho duro e pelos recursos naturais usados para fabricá-los”, diz Lu Yen Roloff, do Greenpeace.

“A crescente quantidade de estoques excedentes indica que há sobreprodução, e, em vez de diminuir sua produção, eles queimam roupas e produtos em condições perfeitas.”

“É um segredo sujo da indústria da moda. A Burberry é só a ponta do iceberg”, ela diz.


Dilema das marcas de luxo

Tim Jackson, diretor da Escola Britânica de Moda no câmpus de Londres da Glasgow Caledonian University, diz que marcas de moda como a Burberry vivem um paradoxo.

Para satisfazer acionistas, elas devem continuar expandindo, mesmo sob o risco de “diluir sua identidade e criar excesso de estoque”, disse Jackson.

“Elas nunca terão como solucionar esse problema.”

Em novembro, a Burberry anunciou uma ação para “reenergizar” seus produtos.

Isso inclui elevar o status da marca, fechar lojas que não estivessem em locais “estratégicos” e criar um centro de excelência para itens de couro de luxo.

A empresa também cortou gastos, o que ajudou a aumentar os lucros.

Em seu último ano fiscal, encerrado em 31 de março, a companhia reportou uma alta de 5% nos lucros, que chegaram a 414 milhões de libras (R$ 2 bilhões), com as vendas atingindo 2,7 bilhões de libras (R$ 13,3 bilhões).

 

 

Por Ben Morris
Fonte: BBC News