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O SER CRIANÇA E AS OCUPAÇÕES: ENTRE A LUTA E O SORRISO

13 de outubro de 2017

Homenagem por Brigada de Comunicação

“Quando eu crescer eu vou ficar criança”(…) Manoel de Barros

Mesmo sob as inconstâncias do tempo, podemos ver e ouvir as vozes, os sorrisos, os cabelos esvoaçantes ao vento e o faz-de-conta que cria e recria a realidade das milhares de crianças que compõem as diferentes ocupações do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto, o MTST. Apesar de tamanhas adversidades e, pior, o preconceito alheio e infundado, meninos e meninas vivenciam suas realidades com um olhar leve e, acreditem, crítico e esperançoso de que é possível a transformação e o fim de abismos impostos por adultos que esqueceram a força de sua “criança interior”.

A velha mídia aborda, e muito, a respeito dos adultos, os vários trabalhadores e trabalhadoras que fazem as ocupações, inclusive de forma pejorativa e repleta de inverdades, e, mais uma vez, reforçam o apagamento das crianças, sejam suas vulnerabilidades provocadas pela perda diária de direitos ou suas existências na luta coletiva e na construção de uma sociedade com a garantia de uma vida humanamente digna. Porém, reforçamos que a criança possui seu protagonismo mesmo nesse cenário de silenciamento e é na construção coletiva que desenham entre o lúdico de suas brincadeiras e sonhos, vozes de incentivo para seus pais e outros adultos reivindicarem, além das moradias, demandas que possibilitem crescerem como sujeitos que farão a continuidade da luta por justiça social no chão das grandes cidades.

No cotidiano, as crianças sem teto frequentam escolas públicas que também sofrem ataques e perdas diárias, professores massacrados por jornadas extensas e sem justa remuneração, convivem com rótulos de “vencedores e perdedores” e estigmas de “mais do que nunca precisam se esforçar para terem seu lugar ao sol”. É desde o início de suas vidas, o estímulo de uma competição injusta uma vez que saem da “largada” social com jogadas atrás, ou seja, a precarização das salas de aula como espaço de debate e construção do aprendizado, mas, mesmo assim, transitando com esperança, força e conhecimentos que ultrapassam muros, bambus e lonas. Um conhecimento que se faz e refaz nas relações e experiências que vivem e trocam nos espaços que correm e brincam.

Vale ressaltar também que a brincadeira é algo sério, sim! Simboliza o seu modo de ser e estar no mundo e nas ocupações isso fica extremamente visível ao partilharem brinquedos, ideias e, principalmente, se ajudarem assim como seus pais, na convivência diária e organização das atividades. Nas corridas entre os barracos não há “vencedores e perdedores”, mas crianças que, mutuamente, ensinam e aprendem que a vida vai além das relações desiguais impostas por aqueles que desejam a manutenção de privilégios. Entre esses meninos e meninas nasce e cresce um sentimento que se deseja para além da ocupação, vai para toda a comunidade em torno, o desejo de justiça social plena e concreta.

Assim, a consideração da criança como sujeito de direitos significa reconhecê-la como ser humano, sujeito histórico e cultural que é capaz de participar do seu próprio processo formativo, afinal, toda a criança tem o direito de ler o mundo, de conhecer e debater sobre os seus próprios direitos, de conhecer, aprender e participar do seu próprio processo formativo e de ser respeitada enquanto sujeito de direitos.

Ao longe, o sol se põe, dia quente de primavera, meninos e meninas, sem distinção, jogam bola. Mais do que isso, todo o gingado e dribles demonstram o jogo que é viver numa ocupação, mas não um jogo com lados adversários. Esse é um jogo de construção entre sorrisos e vitórias que levarão para toda a caminhada de suas vidas, um aprendizado que se espera aquecer os corações que, no futuro, serão adultos, mas que, nos momentos de incerteza, serão protegidos pela força da criança que foram: guerreiras e vivas em seus corações.

MTST, a luta é pra valer!