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Conscientização, debates e atividades | MTST realiza o 2º Encontro da Juventude Fogo no Pavio

18 de julho de 2018

Foto por Brigada de Comunicação/MTSTO Movimento dos Trabalhadores Sem Teto se rejuvenesce e ganha novos ares diariamente. Em cada uma das suas ocupações, a juventude do MTST vem sendo organizada e tendo sua voz ouvida e contemplada dentro do maior movimento social urbano do Brasil. No último final de semana, da sexta-feira, 13 de julho, ao domingo, dia 15, parte dos e das jovens do MTST se conheceu e se reconheceu melhor, durante o 2º Encontro da Juventude Fogo no Pavio.

Foram três dias repletos de debates, rodas de conversa, oficinas, exibição de filme e até mesmo um encontro com o pré-candidato à Presidência pelo PSOL e coordenador nacional do MTST, Guilherme Boulos, onde puderam apresentar suas propostas para a juventude do País. As atividades aconteceram nas dependências do casarão do movimento, em Taboão da Serra, Região Metropolitana de São Paulo.

Foto por Brigada de Comunicação/MTST

Maria Morita, professora de Filosofia e coordenadora que constrói cotidianamente o movimento junto da Juventude Fogo no Pavio, explicou a necessidade de dar voz aos mais novos. “Rola um conflito geracional dentro dos acampamentos. É uma juventude com muitas demandas, que a geração dos militantes mais velhos não entende muito bem. O diálogo, às vezes, não dá liga: os meninos são ansiosos e têm demandas específicas enquanto jovens na ocupação, enquanto jovens na luta”, conta uma das mais ativas organizadoras do evento.

No segundo ano consecutivo do encontro, a principal mudança foi exatamente a construção coletiva — em se tratando de um movimento por moradia popular, chamam a atenção os diferentes significados do verbo “construir”, muito além da construção física, material, de uma habitação, por exemplo. Aqui, a construção também é sempre sinônimo da criação de uma realidade nova e diferente, que perpassa o mundo simbólico e afetivo.

“O primeiro encontro foi construído principalmente entre os educadores e educadoras presentes nos trabalhos de educação do MTST. Pra esse encontro de 2018, a gente construiu a partir das conversas internas [da juventude] em terreno de ocupação”, prossegue Maria. “Não é a gente, enquanto geração mais velha, que vai saber o que essa galera precisa e quer discutir. Vamos atrás e vamos perguntar pra eles”. Foram cerca de quatro meses de organização, com reuniões periódicas e tarefas coletivas no dia a dia das ocupações.

Foto por Brigada de Comunicação/MTST

Nicole e as propostas para mudar o Brasil

Presente no encontro de 2017, Nicole, de 14 anos, falou sobre o impacto da primeira versão do evento na sua vida. “De lá pra cá mudou a minha forma de pensar, de agir sobre todas as coisas, como política, racismo, machismo, tudo que tem a ver com o que a gente passa todos os dias”, relata a jovem que se juntou à Ocupação Pinheirinho de Embu, ainda em 2011. “Eu fiz a cabeça da minha mãe pra entrar pro movimento e hoje estamos firmes e fortes na luta, há sete anos”.

Nicole se diz mais preparada na hora de defender seus pontos de vista: “Agora eu debato mais com os outros, tenho bala na agulha pra trocar com a pessoa, consigo falar e bater de frente numa conversa”. Perguntada sobre o que mais lhe agradou na versão 2018 do evento, Nicole foi taxativa em descrever o encontro com Guilherme Boulos, realizado no Capão Redondo. “Pra mim foi uma experiência maravilhosa. A gente conseguiu mostrar pra ele nossas propostas, tiradas de uma atividade que tivemos aqui, e também conversamos com ele e outros movimentos”.

Foto por Brigada de Comunicação/MTST

“Foram propostas no sentido de que a juventude da quebrada tá cansada de ser esculachada pelas instituições e pela falta de direitos; tá cansada de ser esculachada pelas forças de segurança e braços armados do estado. Porque as instituições existem, só que não pra eles”, resume Maria sobre as ideias levadas da Juventude Fogo no Pavio ao pré-candidato à Presidência.

Danilo, do Pancadão Consciente à empatia e solidariedade com as mulheres

“Eu entrei no movimento com um pensamento totalmente diferente do que tenho hoje”, começa Danilo, 16 anos, vindo da Ocupação Marielle Vive, em Pirituba, zona noroeste de São Paulo. “Pensando que era bagunça, que ia chegar, erguer um barraco e ficar lá dentro, curtir. Aí me levaram pra coordenação e eu vi o que era o MTST, que o movimento trata as pessoas igualmente, sem diferença. Mudou muita coisa na minha vida”.

Proveniente de uma das mais novas ocupações do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto — nascida junto da Ocupação Marielle Franco, no Grajaú, em abril –, Danilo descreveu aquilo que mais o marcou no Segundo Encontro da Juventude Fogo no Pavio: a roda de conversa sobre feminismo e o Pancadão Consciente. “Eu já tinha o meu pensamento, mas, conversando, eu acabei expandindo o meu ponto de vista. Tem muitos homens que não se colocam no lugar da mulher. Nessa roda eu pude me colocar no lugar delas, ver o que uma mulher passa”.

Foto por Brigada de Comunicação/MTST

O debate que pautou o feminismo foi sucedido pelo Pancadão Consciente, confraternização ao som de funk onde as garotas escolheram as músicas e os meninos, se quisessem, selecionaram sons a partir da aprovação feminina. A atividade, realizada em conjunto com o coletivo Nós Madalenas, teve por objetivo trazer questões e provocações que tratassem da objetificação da mulher nas letras, deixando as meninas à vontade, e que também abordassem a criminalização do funk.

“Foi um pancadão em que a gente teve uma discussão sobre como ele ia ser num território livre, porque nós estamos num território livre de opressões, porque aqui é um território de luta”, definiu Maria. “As pessoas precisam de um pouco mais de consciência, se colocar no lugar do outro. Aqui, você vê que não tá sozinho, que tem jovem passando pela mesma coisa que você, que tá na mesma luta”, pontua Danilo.

Foto por Brigada de Comunicação/MTST

Lidiane e as oficinas que ajudam a acender o fogo no pavio

Driblando a vergonha e quase fugindo da entrevista, Lidiane, 19 anos, herdou a paixão pelo movimento e a luta de seu pai. Conta que ainda morava na Paraíba enquanto o pai já montava barraco de lona e ocupava terreno com o MTST. Hoje, ela é uma das orgulhosas moradoras do Condomínio João Cândido, a poucos metros do casarão onde o encontro ocorreu, fruto da conquista do pai e financiado pelo programa Minha Casa Minha Vida – Entidades.

“Meu pai já lutou, e agora é a minha vez de ajudar também”, empolga-se. “Eu me sinto muito feliz aqui”. Lidiane diz ter aproveitado uma das diversas oficinas oferecidas durante o evento. “O que mais me animou foi a oficina de brinco. Eu nunca soube que brinco assim [aponta para as orelhas, devidamente enfeitadas com os brincos recém-criados] era de madeira de côco, de banana. Eu comecei a chorar na hora, ‘meu, não tô acreditando que eu era capaz de fazer, de mostrar pra todo mundo, ensinar pra quem não sabe'”.

Foto por Brigada de Comunicação/MTST

No domingo, além da oficina de brinco artesanal — oferecida pelos jovens Jeferson e Guto, lutadores da Ocupação Marielle Franco —, tiveram lugar as oficinas de horta, internet, comunicação e redação, memes, mandalas, filtros dos sonhos e estêncil.

Marcela, a guerra às drogas e a luta além da moradia

Marcela chegou ao MTST ainda em 2013, quando entrou no terreno recém-ocupado da Vila Nova Palestina. Em 2017, ela se mudou de vez e passou a morar na ocupação, se libertando dos R$ 550 do aluguel, fora água e luz, e as contas de quem tem um filho para criar. Aos 24 anos, ela espera o segundo filho para os próximos meses.

Foto por Brigada de Comunicação/MTST

“O que eu mais gostei foi o debate sobre a legalização das drogas. Tinha coisa que eu já sabia, só que tinham muitas coisas que eu não sabia e é legal [saber]. Foi importante ver que não é só pela legalização da maconha, mas que, antes de tudo, essa proibição, essa lei que proíbe o uso tá matando a gente da periferia”, relata. A roda sobre uso, venda e criminalização da maconha, em específico, e das drogas em geral, foi uma das que mais movimentou a Juventude Fogo no Pavio, pautando boa parte das propostas apresentadas à pré-candidatura de Boulos.

Marcela também destacou o significado da luta e das bandeiras do movimento. “Entendi que a luta não é só por moradia, mas também contra o preconceito, o racismo, o machismo, a diminuição que fazem em cima da gente que é da periferia. Luta, pra mim, é lutar por tudo. O MTST não tá lutando só por casa, ele tá mostrando o nosso lugar no mundo”, declara, antes de fazer um saldo do encontro. “Se eu pudesse escrever, fazer um resuminho desses três dias, ia escrever cada coisa que vi em cada pessoa: olhar, esperança, sonhos…”

MTST, A LUTA É PRA VALER