Coletivo de Negras e Negros do MTST vai a supermercado contra tortura e racismo
Na tarde desta sexta-feira, 6 de setembro, o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto compareceu em peso à unidade do Racoy Supermercados, na Vila Joaniza, zona sul de São Paulo, para protestar contra os dois casos de tortura em jovens negros cometida por seguranças do local. Divulgados recentemente, os episódios chocaram e exigiram um ato de repúdio que precisava ir além da internet e redes sociais, o que foi feito pelo Coletivo de Negras e Negros do MTST, mesmo debaixo de chuva.
Estiveram presentes mais de cem manifestantes munidos de cartazes, faixas e sistema de som improvisado, que ressaltavam o racismo revelado na atitude bárbara: as duas vítimas dos seguranças, que teriam furtado itens do mercado, são negras. Uma delas foi amarrada, espancada e chicoteada, além de ter suas roupas arrancadas — tudo isso filmado pelos próprios agressores. Os seguranças se encontram foragidos depois de sua prisão decretada.
O rapper Edson Basílio, militante do Coletivo de Negras e Negras do MTST, advertiu que o caso não é responsabilidade exclusiva dos seguranças, mas também se estende aos seus empregadores, o Ricoy Supermercados: “Entrou para a lista suja dos empreendimentos racistas do Brasil”.
A fala de Edson, proferida durante o protesto, vai de encontro ao que afirma o presidente do Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana do Estado de São Paulo (Condepe-SP), Dimitri Sales, em entrevista para o Brasil de Fato: “As dependências do estabelecimento estão sendo utilizadas para a prática de tortura. Logo, esse caso tem que ser levado muito mais sério, a responsabilização cai para além dos funcionários, é uma responsabilização contra o estabelecimento”.
Curiosamente, um dos sócios da rede é um ex-policial militar aposentado — instituição que historicamente abusa dos direitos humanos da população negra brasileira.
Horas antes do ato surpresa, o Coletivo de Negras e Negras do MTST divulgou o “Manifesto Contra o Racismo no Supermercado Ricoy” (que pode ser lido aqui, em sua íntegra). Suas linhas são enfáticas:
“Nós, do coletivo de negras e negros do MTST, das mais diversas regiões da periferia de SP, afirmamos que a violência racista nunca mais encontrará nosso silêncio. O Brasil foi o último país a abolir a escravidão, mas para alguns ela ainda existe. Esse país continua tratando o povo negro como objeto, negando nossa humanidade. […] Lutamos contra o ódio racista, a tortura, o assassinato do nosso povo e a tragédia da desigualdade social. Lutamos pelo direito ao nosso futuro. Não há capitalismo sem racismo. “