Moradora de assentamento do MST em Herval é finalista da Olimpíada Nacional de História
Julia Kaiane Prates da Silva, de 18 anos, conquistou uma bolsa para poder passar a semana no internato do Instituto Federal Sul Riograndense, em Pelotas, onde cursa o terceiro ano do Ensino Médio. Prova final da competição ocorre neste fim de semana, em São Paulo.
Uma estudante que mora em um assentamento do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), em Herval, na Região Sul do Rio Grande do Sul, é finalista da 10ª Olimpíada Nacional em História do Brasil (ONHB), cuja etapa final ocorre neste fim de semana em São Paulo.
Julia Kaiane Prates da Silva, de 18 anos, estuda no Instituto Federal Sul Riograndense, em Pelotas, onde cursa o terceiro ano do Ensino Médio e o Ensino Técnico em Meio Ambiente. Além de Julia, a equipe, que recebeu o nome de “Lutzenberger”, é composta pelas alunas Vitória Camargo e Camila Porto das Neves, e pelo professor Deomar Villagra Neto.
“Estou muito ansiosa. É um momento muito importante para mim. Não tinha noção do que essa olimpíada ia trazer, nos deu a oportunidade de conhecer outro estado, outra cultura. Vai ter gente do Brasil todo”
O grupo recebeu ajuda de custo da coordenação da Olimpíada para poder viajar à São Paulo. Os auxílios são disponibilizados para as cinco equipes de escolas públicas com mais alta pontuação em cada região do país.
A Olimpíada Nacional em História do Brasil é um projeto realizado pelo Departamento de História da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). É composta por seis provas online, com questões de múltipla escolha e realização de tarefas.
“A gente não tinha nem noção de como ia ser a competição. É a primeira vez que a gente participa da Olimpíada. Foram seis fases antes de chegarmos à final”, conta Julia.
A prova final ocorre neste sábado (18), e a cerimônia de premiação será no domingo (19) com entrega de 15 medalhas de ouro, 25 de prata e 35 de bronze, além de medalhas de honra ao mérito. Ao todo, estarão 1,2 mil alunos de todo o Brasil.
Julia relata que História virou uma de suas matérias favoritas e já começa a fazer planos para o futuro. “Com a olimpíada comecei a admirar ainda mais a área de História. Meus objetivos ainda não estão bem definidos, mas quero prestar o vestibular da Ufpel [Universidade Federal de Pelotas] e o Enem”.
“Há preconceito com as famílias assentadas pelo MST”
Com um bolsa oferecida pelo governo federal, Julia passa a semana no internato do Instituto Federal Sul Riograndense, no Campus Visconde da Graça, em Pelotas, sem precisar pagar pela moradia e pelas refeições. Para conseguir o auxílio, os estudantes fazem uma prova de conhecimentos gerais, como se fosse um vestibular.
“Esta é oportunidade que temos de estudar. Não teria condições de pagar um apartamento, por exemplo”, conta a estudante.
A família de Julia vive no assentamento há 12 anos, quando a mãe conquistou um pedaço de terra no local. No terreno moram também o padrasto e dois irmãos da estudante. “Todo final de semana eu vou para Herval ou visito minha avó que mora em Rio Grande”, conta a jovem que ganha também ajuda de custo com as passagens para visitá-los.
De acordo com a estudante, o sustento da família vem do trabalho na agricultura com plantação de milho, soja e feijão. Julia relata que, no Brasil, “há muito preconceito com as famílias assentadas pelo MST”.
“Poucos conhecem o esforço e trabalho realizado por essas pessoas. Vejo como uma luta digna, em um país com tanta terra inutilizada e tanta gente sem terra”