Criminalização e má-fé | Por que associar o PSOL a incêndio de museu é desonesto?
Bolsonaro e Ana Amélia tentaram culpar partido por filiação política de reitor, que foi o mais votado pela comunidade universitária
Não levou muito tempo para os candidatos nestas eleições tentarem explorar politicamente o incêndio no Museu Nacional, no Rio de Janeiro. Enquanto parte da esquerda atribui culpa ao atual governo, embora a instituição apresentasse problemas em suas instalações desde 2004, os postulantes de direita decidiram eleger um responsável: O PSOL.
O motivo? O fato de o o atual reitor da UFRJ, responsável pela gestão do museu atingido, ser filiado ao partido. Embora tenha sido eleito com mais de 13 mil votos de professores, servidores técnico-administrativos e alunos, Roberto Leher e a legenda têm sido alvo de ataques por supostamente “aparelhar” a universidade.
Não foram poucos que buscaram atribuir culpa ao partido na tragédia. Jair Bolsonaro, presidenciável pelo PSL, afirmou que a administração “é de gente filiada ao PSOL e ao PCdoB”. “A indicação política leva a isso”, disse o candidato. Vice na chapa de Alckmin, Ana Amélia seguiu a mesma linha em uma entrevista concedida à Globo News, ao afirmar que o caso “tem a ver, sim, com o partido”. Como se não bastasse, o próprio governo federal, informa o site Poder 360, ajudou a espalhar uma corrente que lembra a filiação política do reitor.
A discussão sobre aparelhamento não leva em conta a autonomia das universidades federais brasileiras, que têm liberdade para conduzirem seus processos eleitorais internos. Segundo o decreto 1.916, de maio de 1996, o reitor e o vice-reitor são nomeados pelo Presidente da República, que determina seu preferido entre os indicados em listas tríplices elaboradas pelas instituições. Essas listas são consolidadas de acordo com o processo eleitoral interno de cada universidade.
Leher foi nomeado reitor por Dilma Rousseff em 2015. Ele teve quase o dobro de votos da comunidade acadêmica da UFRJ. Se Dilma preferisse, ela poderia escolher a segunda colocada, a professora Denise Pires, que obteve 6.534 votos no total. Mas preferiu seguir a recomendação da eleição interna da universidade.
O próprio governo Temer nomeou recentemente, e aparentemente à contragosto, um reitor da Universidade Federal do ABC eleito pela maioria da comunidade acadêmica. Dácio Roberto Matheus venceu o pleito interno no início de novembro de 2017, mas só foi nomeado em maio deste ano. O ministro da educação de Temer, Mendonça Filho (DEM), preferiu estender sem prazo o tempo de gestão do ex-reitor Klaus Capelle, ao alegar falhas burocráticas no processo conduzido pela UFABC.
Reportagem do jornal Diário do Grande ABC deste ano apontou que haveria um incômodo do governo Temer pelo suposto alinhamento de Matheus com ideias defendidas pelo PT. De qualquer forma, o governo preferiu não desrespeitar o pleito universitário e nomeou o reitor.
Talvez seja mais coerente falar em aparelhamento quando o reitor nomeado não foi aquele quem mais recebeu votos da comunidade acadêmica. Em 2009, João Grandino Rodas foi nomeado por José Serra, então governador de São Paulo, para assumir a reitoria da USP, uma instituição estadual. Ele foi o segundo colocado na lista tríplice elaborada pela universidade, mas Serra preferiu escolhê-lo ao afirmar que “não conhecia bem” o mais votado dos candidatos, o físico Glaucius Oliva. No fim de sua gestão, em 2014, Rodas deixou um déficit de 1 bilhão de reais nas reservas da USP.
Fonte: Carta Capital