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A vez da política do povo | “Não existe avanço dos direitos sociais sem ataque a privilégios”, diz Guilherme Boulos

11 de julho de 2018

Leia artigo do pré-candidato ao Planalto

Guilherme Boulos é filiado ao PSOL

Crescimento da anti-política gera o desafio de canalizar esse descontentamento para um projeto de mudança, diz Guilherme Boulos | Foto por Mídia Ninja

A vez da política do povo

Quando o Senado Federal consumou o golpe contra a presidenta Dilma Rousseff, o pessimismo sobre o que viria em seguida já era grande. Hoje, quase 2 anos depois, a realidade do Brasil se traduz em uma versão piorada da célebre frase do escritor Millôr Fernandes: somos um país com um longo passado pela frente. E bota passado nisso.

Hoje está claro que o único caminho para tirar o Brasil da lama passa pelo combate vigoroso dos privilégios e da lógica perversa de mercado que reina nesse país. Também é evidente que só um governo com real participação popular pode fazer esse enfrentamento.

A política de Temer e seus muito mais de 40 ladrões é de terra arrasada. Atuam qual uma nuvem de gafanhotos na destruição de qualquer tecido social e produtivo que, a muito custo, havia sido conquistado nas últimas décadas. Da reforma trabalhista neo-escravocrata à aprovação da PEC 95, que congelou gastos com educação, saúde e programas sociais por 20 anos, passando pela venda do nosso pré-sal a preço de banana, a tônica do governo ilegítimo é o entreguismo.

Nem a ditadura militar ousou destruir conquistas como a CLT e a soberania sobre a exploração das nossas riquezas. O resultado desse verdadeiro saqueio neo-colonial não se reflete somente na popularidade mais baixa de um presidente em toda a história do país. É flagrante no aumento da pobreza e da desesperança.

Estamos voltando ao Mapa da Fome, menos de 4 anos depois de ter saído dele. Segundo o IBGE, o número de brasileiros em situação de extrema pobreza aumentou 11,2% de 2016 para o ano passado, atingindo quase 15 milhões de pessoas. De acordo com o mesmo instituto, o desemprego em abril foi de 13,6% e chegou a 14 milhões de cidadãos.

Nesse cenário desalentador, se proliferam propostas oportunistas que flertam com o fascismo e semeiam o ódio, como as do deputado federal Jair Bolsonaro. Além disso, o autoritarismo se expressa sem freios por meio dos desmandos do atual Judiciário e na operação condução política da operação Lava Jato, que hoje mantém o ex-presidente Lula como preso político. As chicanas de Moro e da PF no último domingo (8.jul) derrubaram todas as máscaras e evidenciaram a esculhambação das instituições da República.

O momento é crítico. Mas a realidade brasileira nos pede coragem para construir uma alternativa oposta ao modelo que vem sendo aplicado. E a primeira lição desses tempos sombrios é que não existe avanço nos direitos sociais sem atacar os privilégios. Um programa para o povo nesse país tem que ser de enfrentamento ao mercado, aos bancos e aos juros absurdos praticados no sistema financeiro. Se não, não há espaço para política social nenhuma.

A lógica econômica é perversa: quanto mais o Brasil vai para o buraco, mais os bancos enchem o bolso de dinheiro. Em plena crise, o lucro das maiores instituições financeiras aumentou 21% em 2017, somando mais de R$ 61 bilhões. Isso é um tapa na cara de quem conta o dinheiro para pagar o ônibus ou comprar um botijão de gás. O Brasil merece uma economia a serviço do povo e não dos banqueiros.

Outra constatação fundamental é a falência do atual modelo político. Essa governabilidade baseada na troca de apoio parlamentar por cargos e benefícios gerou uma profunda descrença política da sociedade brasileira.

Precisamos substituir o tradicional balcão de negócios por um sistema genuinamente popular, com plebiscitos e referendos. Um sistema onde o povo seja escutado e decida de forma permanente, não a cada 4 anos. Voto não pode ser cheque em branco para os políticos.

O crescimento da anti-política gera o desafio de canalizar esse descontentamento para um projeto de mudança. Justamente nesse espírito, construímos uma aliança inédita, que assume com responsabilidade e ousadia o desafio de uma unidade democrática de partidos políticos e movimentos sociais plurais. Forças que estão em lugares diferentes, que em muitos aspectos pensam diferente, mas que têm claro o risco de mais retrocessos em uma nação que vive, desde 2016, um golpe por dia.

PSOL, PCB, MTST, ABIP, movimentos feministas, negros, LGBTs, intelectuais progressistas, trabalhadores urbanos e rurais, entre outros, decidiram construir esse projeto a muitas mãos, incentivando a discussão e promovendo consensos.

Já são mais de 50 debates presenciais em todas as regiões do país e mais de 100 mil interações online que somam propostas para transformar o Brasil a partir de uma perspectiva de garantia de direitos, trazendo a população para o centro das decisões.

É hora de nos unirmos para defender a democracia e enfrentar privilégios para retomar e aprofundar avanços sociais. Para defender um projeto forjado de baixo para cima, no seio da resistência e, sobretudo, cuja validade não deve expirar em outubro com as eleições.

Para defender a construção de um novo futuro, que faça o Brasil se livrar de vez dessa “ponte para o passado” que só vem gerando miséria e desilusão. Porque a luta por um Brasil melhor é feita de esperança e coragem.

 

 

Por Guilherme Boulos, 36, pré-candidato à Presidência da República pelo PSOL, a primeira candidatura ao Planalto que une partidos políticos e movimentos sociais, como o MTST e a APIB. É filósofo, professor, ativista, psicanalista, colunista e escritor. Há 16 anos, atua ao lado dos trabalhadores Sem-Teto como coordenador do MTST. Desde as jornadas de junho de 2013, Boulos vem se consolidando como uma das maiores lideranças brasileiras nas lutas sociais e democráticas. Esteve na linha de frente da resistência ao golpe parlamentar contra Dilma, na campanha pelo Fora Temer e Diretas Já e na defesa ao ex-presidente Lula.

Fonte: Poder360