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A resposta contra a fome virá das mãos das mulheres negras

25 de julho de 2024

Lideradas por mulheres negras, as Cozinhas Solidárias emergem como uma poderosa resposta à fome, transformando-se de iniciativas emergenciais durante momentos de crise e em políticas públicas vitais
Por Coordenação Estadual do Rio de Janeiro

 

Antes do café acabar de ser coado, a fila de pedras se forma ao longo da Avenida Mem de Sá, próximo a um dos principais pontos turísticos do Rio de Janeiro – os Arcos da Lapa, e assim se inicia mais um dia da Cozinha Solidária da Lapa.

Essas pedras representam, de forma simbólica, as vidas predominantemente negras que serão impactadas por esse projeto, que representam 80% da população em situação de rua no Rio de Janeiro.

E se a população beneficiária das Cozinhas Solidárias do MTST no Rio de Janeiro é majoritariamente negra e periférica, as responsáveis por combater a fome são dessas mesmas mãos, de pessoas negras.

As 52 Cozinhas Solidárias do MTST, espalhadas por 14 estados do Brasil e reconhecidas atualmente por lei como políticas públicas, nasceram das mãos das cozinheiras que comandaram as cozinhas das ocupações, majoritariamente mulheres periféricas e negras.

Durante o período de crise sanitária, social, econômica e política no Brasil, surgiu a necessidade de tirar o coração da ocupação (cozinha) e colocá-lo nas periferias do Brasil. As Cozinha Solidária são espaços que vão muito além de locais de preparo de alimentos e entrega de refeições gratuitas para os mais vulneráveis. Trata-se de espaços – integrados na maioria por mulheres, e nesse recorte, é importante ressaltar uma maioria mulheres negras – de autoconhecimento, de reconhecimento de direitos, de partilha e de esperança.

Mulheres que até então estavam inseridas em uma sociedade cuja cultura ainda dita que “lugar de mulher é na cozinha” na intenção de menosprezar esse espaço e essa prestação de serviço doméstico (assim como todas as práticas de cuidado relegadas às mulheres), se veem nas Cozinhas Solidárias como quem dirige e coordena um local vital, essencial para o projeto político do MTST, o coração da nossas comunidades. É o reconhecimento do valor e do prestígio do descascar alimentos, do cozinhar, do servir, do pensar no cardápio.

Maria de Fátima Pereira, coordenadora e cozinheira da Cozinha Solidária da Lapa, é um exemplo disso. Ela relata que depois de entrar no MTST, no ano de 2014, descobriu a luta por direitos e afirma que, de lá pra cá, aprendeu a se reconhecer como uma pessoa que possui direitos e que não mais aceitará que eles sejam desrespeitados.

E assim, ocorre o que bell hooks nomeia como criar consciência: “Antes que as mulheres pudessem mudar o patriarcado, era necessário mudar a nós mesmas; precisávamos criar consciência.” Isso evidencia que, termos uma Constituição Federal que prevê que somos todos iguais, não é capaz, por si só, de nos fazer ser iguais, ou sequer, achar que podemos ser iguais. Foram necessários os espaços de luta do MTST para manifestar a Fátima e tantas outras militantes que as mulheres (negras) são sujeitos de direitos.

As Cozinhas Solidárias do MTST são espaços múltiplos. Há o alimento e há afeto, acolhimento e força, resistência e esperança, ancestralidade e projeto político de futuro!

No Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha, logo após a ONU – Organização das Nações Unidas – apresentar novos dados mundiais sobre segurança alimentar destacando que o Brasil retirou 14,7 milhões de pessoas da fome, a qual afeta principalmente as famílias de mulheres negras. As Cozinhas Solidárias estão na linha de frente desse combate, demonstrando de forma incontestável que a resposta contra a fome vem, e continuará vindo, das mãos das mulheres negras!