“Bolsonaro é um cagão”, diz Guilherme Boulos em visita a São Carlos
Pré-candidato à presidência também comentou ligação entre o prefeito Airton Garcia (PSB) e a especulação imobiliária. Político lançou desafio a Bolsonaro em coletiva
Em visita a São Carlos nesta quarta-feira (13) o pré-candidato à presidência pelo Partido Socialismo e Liberade (PSOL) Guilherme Boulos recebeu a imprensa para uma coletiva na Associação Veracidade, na Vila Prado. O político discutiu temas como a taxa tributária, educação, transportes, combustíveis e as eleições de 2018. Além disso, Guilherme Boulos criticou duramente o governo de Michel Temer (MDB) e lançou um desafio ao também pré-candidato à presidência Jair Bolsonaro (PSL). Por fim, o político comentou a ligação entre o prefeito de São Carlos, Airton Garcia (PSB) e a especulação imobiliária na cidade.
A respeito do projeto de governo, o pré-candidato afirmou que a proposta completa deve ficar pronta em torno de um mês e meio. “Nosso projeto para o país está em discussão e construção a várias mãos. São 17 eixos temáticos, como economia, políticas sociais, políticas energéticas, política externa, cultura, educação e muitos outros. Vamos ter um programa fechado no final do mês de julho, essa é a nossa expectativa. Desde já temos levados eixos importantes. O primeiro é que não dá para, hoje, discutir a situação brasileira ou encontrar saídas para essa crise sem revogar os retrocessos que esses dois anos de governo Temer representam. Em dois anos o Brasil andou décadas para trás. Temer fez uma reforma trabalhista que retira direitos históricos dos trabalhadores, congelamento de gastos sociais com 20 anos com a PEC do Teto, a entrega do pré-sal para empresas estrangeiras e várias outras medidas”, disse.
“No dia 1º de janeiro de 2019 vamos apresentar para o Congresso e para a sociedade brasileira um plebiscito para revogar as medidas tomadas pelo governo Temer. Reforma trabalhista, entrega do pré-sal, reforma do ensino médio, emenda constitucional 95. O povo brasileiro não foi consultado sobre nada disso, isso foi aprovado a pedido de um governo ilegítimo pelo Congresso mais desmoralizado da nossa história. Não reconhecemos legitimidade nestas medidas e queremos que o povo decida”, falou.
Sobre a política de combustíveis, Boulos afirmou ser preciso reverter a política de preços da Petrobrás, a qual julga desastrosa. “Levado a cabo com o Temer junto com o Pedro Parente, que subordina a Petrobrás para gerar lucros para acionistas em Wall Street e não para atender e assumir uma responsabilidade social com o povo brasileiro. Atrelar o preço do combustível na bomba à variação do barril internacional do petróleo é uma insanidade. Nós vamos reverter isso. Estamos discutindo a renacionalização da Petrobrás, essa é a nossa proposta e é isso que nós acreditamos que deva ser feito. Nós precisamos construir um debate de um novo modelo de desenvolvimento para substituir gradualmente combustíveis fósseis por energia renovável”, comentou.
Outro tema debatido por Guilherme Boulos foi o da reforma da previdência, proposta pelo presidente Michel Temer. “Felizmente não conseguiu aprovar. Acho que na hora H deve ter faltado dinheiro de emenda parlamentar que ele gastou tudo para salvar o pescoço dele nas denúncias do Ministério Público. Essa reforma penaliza os mais pobres, trabalhadores que trabalharam a vida toda e quer se aposentar por um salário mínimo. Estabelece uma idade mínima fixa, de 65 anos, em um país onde a expectativa de vida varia, em determinadas regiões, de 50 a 80 anos. Isso é fazer com que muita gente se aposente no caixão. Se nós queremos mexer na previdência, e é preciso dialogar, nós temos que fazer primeiro destinando o recurso previsto constitucionalmente para a previdência e que está sendo destinado a pagar juros da dívida pública. Estão tirando os recursos que a constituição prevê para a seguridade social e previdência e está destinando para outras finalidades. Dinheiro constitucionalmente atrelado para a seguridade social tem que ir para a seguridade social. E no nosso governo irá para a seguridade social e não para pagar juros de dívida. Além disso, temos que enfrentar a sonegação e o não pagamento de dívidas de grandes empresas com a previdência. Hoje são R$ 440 bilhões que empresas devem para a previdência pública. Desse valor, dois terços é executável imediatamente, apenas um terço é relativo a empresas falidas que não se executa mais. Ou seja, R$ 300 bilhões poderiam ser utilizados e não são”, afirmou.
São Carlos
Boulos também mencionou o envolvimento do prefeito Airton Garcia no ramo imobiliário. “Principalmente aqui em São Carlos, temos um prefeito extremamente ligado à especulação imobiliária. É importante tratar desse assunto. Qual é a lógica da especulação nas cidades brasileiras? Cada vez mais, nas regiões centrais, a terra encarece, vale ouro, e os mais pobres são jogados sempre para as regiões mais distantes. Enquanto isso, a oferta de emprego, de infraestrutura e serviços continua muito concentrada nas regiões centrais. Isso faz com que as pessoas todos os dias tenham que percorrer distâncias enormes do seu local de moradia até o local de trabalho. Isso agrava o problema da mobilidade. Se você cria condições de uma outra lógica de cidade, em que pobre mora no Centro, democratizando a cidade, isso se faz desapropriando e requalificando imóveis ociosos e abandonados nas regiões centrais e destinando para a moradia popular. Você resolveria em uma tacada só o problema de moradia e de mobilidade urbana”, apontou.
Questionado sobre a relação que teria com os municípios caso fosse eleito, Boulos comentou que a questão depende da democracia entre as partes. “Eu acho que isso depende de termos uma relação democrática com os municípios, e não fisiológica como se estabeleceu entre os vários níveis do poder público no Brasil. Eu não acredito que isso seja apenas uma questão de gestão municipal. Política pública urbana passa por regulamentar e efetivar o estatuto das cidades, que é uma lei federal, e é importante que se faça, porque o Brasil ainda tem esse péssimo costume de lei que enfrenta grandes interesses econômicos não pega. O estatuto das cidades tem 17 anos, prevê regulamentação da função social da propriedade e até hoje não foi aplicado de maneira efetiva e plena. Tem que ter uma regulamentação federal e é o que nós vamos fazer. Se nós ganharmos a presidência da república vamos regulamentar e fazer valer o estatuto. Isso é fundamental, cidade não pode ter dono. Hoje no Brasil cidade tem dono e é importante enfrentar esses grandes interesses econômicos”, justificou.
Violência e Bolsonaro
A respeito do campo de Segurança Pública, o pré-candidato reforçou algumas estatísticas que colocam o Brasil como uma das regiões mais violentas do mundo. “Saiu o atlas da violência na semana passada, amplamente noticiado. Foi constatado o que a sociedade já sente: o Brasil é um dos países mais violentos do mundo, tem 30 vezes mais mortes violentas do que a Europa, tem mais mortes do que a Síria, que é um país que está em guerra. O que é a demonstração mais cabal de que este modelo de segurança pública aplicado no país fracassou? Um modelo caro, ineficiente e violento sobretudo. Temos no Brasil a polícia que mais mata e que mais morre no mundo. E tem alvo, lamentavelmente. A população pobre, negra e jovem das periferias é a principal vítima de homicídios e sobretudo letalidade policial no Brasil. Isso precisa ser enfrentado”, afirmou Boulos.
“Isso não é enfrentado com mais violência, é um absurdo, de uma hipocrisia brutal, a gente ver candidatos à presidência da república fazer populismo em cima de corpos. Candidato explorar politicamente o medo das pessoas e ficar propagando propostas que não deram certo em lugar nenhum no mundo. Não é distribuir armas para as pessoas que vai resolver problema. Eu desafio o senhor Jair Bolsonaro, se algum dia ele aparecer em algum debate em algum canto desse país – porque é medroso, Bolsonaro é um medroso e um cagão a dizer um país do mundo que reduziu a violência liberando armas. Não tem. Estados Unidos, que liberaram as armas em vários estados, toda semana vemos alguém chegando com um fuzil em uma escola, em um cinema, matando um monte de gente. Imagine aqui, distribuir arma, qualquer briga de trânsito vira homicídio potencial. Brasil é o 5º país com maior violência contra a mulher, em geral violência doméstica. Se tem arma dentro de casa, isso vira feminicídio. É uma irresponsabilidade defender esse tipo de proposta. Temos que tratar a segurança pública com a seriedade que ela merece. Isso significa rever o modelo de segurança pública, que é o que vamos fazer. Vamos implementar no Brasil o Ciclo Completo de Segurança Pública, aprovando a PEC 51, que está parada no Senado há um tempão, com desmilitarização das polícias, uma única polícia civil que seja ao mesmo tempo preventiva, ostensiva e investigativa. Investindo em inteligência e não em violência. O maior problema no Brasil é o tráfico de armas e munições. Isso não se resolve com ROTA ou Tropa de Choque na rua. Se resolve com inteligência e investigação. É esse modelo de política que nós queremos e vamos fazer no Brasil”, completou o político.
Política e impostos
A descrença popular em relação à política também foi comentada pelo político, que discorda da noção de que a visão centro-política seja representada por um candidato atualmente. “O centro é uma coisa abstrata. Quem é esse centro? Quem tentou ocupar papel de centro político no Brasil nos último 30 anos foi o PMDB, que é um dos partidos responsáveis por essa descrença completa na política brasileira. Hoje o nosso povo está descrente da política, há uma depressão política no Brasil. As pessoas têm dificuldade de ver alternativas políticas. O fato de as pessoas não se sentirem representadas por esse sistema político tem sua razão. Essa forma de fazer política não nos representa. Representa oligarquias e máfias que tomaram conta do estado brasileiro por meio do financiamento empresarial e privado de campanhas eleitorais. Financiam a campanha e depois definem como a coisa funciona. Esse sistema político faliu, não se tem mais como governar desse jeito. Nós vamos construir de um jeito para que pela primeira vez, desde o fim da ditadura, o PMDB seja oposição. No nosso governo ele vai estar na oposição, nem que não queira. Não queremos governar com o PMDB e nem com fisiologismo. Queremos governar com a maioria do povo brasileiro”, explicou.
A respeito dos impostos pagos pelo povo brasileiro, Boulos dissertou a respeito de uma reforma no sistema tributário de forma a cobrar um valor maior da parcela mais rica da sociedade. “É verdade que o povo mais pobre, o trabalhador, e mesmo a classe média desse país paga imposto e paga demais. Qual é o debate que temos que fazer para o financiamento do estado brasileiro? É mudar a lógica desse financiamento. Hoje o estado funciona como um Robin Hood ao contrário. Quem financia, quem paga, é o trabalhador, o pobre e a classe média. O super ricos, quem mais tem, não paga, só recebe. Recebe por juros exorbitantes nos títulos da dívida pública. É assim que funciona o estado brasileiro: de um lado suga, de outro tem uma torneira aberta. Precisamos fazer com que o andar de cima comece a pagar a conta. Hoje no Brasil, pelo sistema tributário, quem tem menos paga mais e quem tem mais paga menos, porque o imposto é sobretudo em relação ao consumo. 49,5% da carga tributária brasileira é imposto indireto sobre consumo. Proporcionalmente os mais pobres pagam mais, porque alguém que recebe até três salários mínimos gasta quase toda a sua renda consumindo, porque precisa sobreviver. Quem recebe R$ 100 mil a R$ 200 mil por mês gasta uma parte consumindo e a maior parte aplica, poupa, e não se tributa isso. Acaba gerando um escândalo. Os 10% mais pobres tem uma incidência de carga tributária no Brasil de 53% sobre a sua renda. Os 10% mais ricos tem uma incidência tributária de 20%. É inaceitável e vamos mexer nisso. Vamos fazer os super ricos e os banqueiros começarem a pagar imposto. Vamos taxar grandes fortunas e tributar lucros e dividendos, que é uma farra. Brasil é um dos poucos países do mundo onde não se tributa lucro e dividendo. Estima-se, em uma alíquota básica mínima de 15%, que é metade da alíquota de do imposto de renda, a arrecadação de R$ 60 bilhões ao ano só com lucro e dividendo. Aí está o dinheiro para fazer investimentos públicos no Brasil. O Brasil é um país rico, a 7ª economia do mundo, mas está entre os 10 mais desiguais do mundo e é aí que a gente tem que mexer”, finalizou.
Fonte: ACidadeON