Prefeito de Embu Ney Santos, acusado de elo com PCC, agora é suspeito de fraudar uniformes
Operação Prato Feito, da Polícia Federal, que apura desvios em merendas e uniformes, realizou buscas na casa do prefeito de Embu das Artes (SP); Ney nega as acusações
O prefeito de Embu das Artes, na Grande SP, Ney Santos (PRB), que já foi acusado de lavar dinheiro para o PCC (Primeiro Comando da Capital) e de usar recursos do tráfico de drogas em sua campanha eleitoral, e que há dois meses escapou por pouco de ser preso no exercício do mandato, caiu nesta quarta-feira (9/5) na mira da Polícia Federal.
Santos e outros 13 prefeitos são investigados pela operação Prato Feito, que investiga o desvio de verba em fraudes para a merenda e uniforme escolares. Ele nega todas as acusações.
Policiais federais cumpriram hoje um mandado de busca e apreensão na casa de Ney. Segundo a assessoria de imprensa da PF, Santos é investigado por receber supostos pagamentos indevidos do empresário Carlos Zeli Carvalho, dono da Reverson Ferraz da Silva, que fabrica uniformes escolares. As propinas serviriam para que Santos garantisse a contratação da empresa de Carvalho, que, segundo a PF, comandaria uma associação criminosa formada pelos seus parentes.
Segundo a PF, cinco cheques foram emitidos em nome de Fernando da Silva, sócio de um assessor de Santos, Rodrigo Passos Fernandes. Os valores foram depositados entre abril e novembro de 2016, antes e depois da eleição para prefeito. Conversas por telefone gravadas pela PF registraram as negociações entre Carlinhos e Rodrigo. Em 26 de setembro de 2016, o assessor combina uma reunião para o que seria uma entrega do dinheiro em espécie, chamado de “material”, e menciona os outros cheques pré-datados já depositados.
Carlos Zeli Carvalho (empresário): Beleza, olha só: amanhã vou te levar o material aí, amanhã, disso aqui, né?
Rodrigo (assessor do prefeito Ney Santos): Tá, que horas você acha que tá por aqui?
Carlos: Na parte da manhã. Vamos sair daqui umas 8h. Umas nove, nove e meia to passando ali no Samu.
Rodrigo: Fechou. Você me liga.
Carlos: Deixa eu te falar: eu tenho conversado, na sexta feira, com o Jota, o Edson. Ai ele falou pra mim: “Carlinhos, como é que tá lá?”. Ah, tá tudo em ordem né? Dá uma ligadinha, né, que parece que tem boi na linha.
Rodrigo: Não, tá tudo bem. Na realidade é o seguinte: eu peguei os cheques lá, depois que eu fui ver. Tá pré-datado pra depois né?
Carlos: É, aquilo que eu comentei com você né? De dar o material pra você ir trabalhando. (inaudível) o que a gente estava fazendo, né?
Rodrigo: Entendeu. Entendeu. Mas fica tranquilo, amanhã a gente toma um café com calma.
No dia do encontro, Carlos fala diretamente com o prefeito.
Carlos (empresário): Rapaz, é.. eu não queria ta atrapalhando não, é que eu to levando material lá pro nosso amigo.. ta tudo em ordem ai?
Ney Santos (prefeito): Tá.. fala com o Rodrigo.
Carlos: Beleza, beleza.
Ney Santos: Que eu tô fazendo caminhada, né.
Carlos: Exatamente.
Ney Santos: Mas não faz que nem da outra vez não, porra, se não não adianta nada, meu amigo. Até sexta-feira eu tenho que desenrolar tudo… se não, depois 9 anos, entendeu?
Carlos: Não.. sim! É o que tô falando.. se eu deixar o material com o Rodrigo.. falei com ele que a gente tá com uma dificuldade por causa do meio.. que tá tudo enrolado ai..mas a gente vai levando aí..
Ney Santos: Não adianta nada.. você fizer desse jeito ai. tem que esperar virar, entendeu.. não adianta pra mim… faz uma força tarefa lá.. .me ajuda lá.
Carlos: Beleza, beleza! A gente tá na dificuldade, por isso que a gente tá ( inadaudivel) o negócio… uns dias aí pra frente.. mas tá finalizando.. na reta ai.
Ney Santos: Tá foda! Me ajuda aí ta bom?
Carlos: Tá bom… eu vou ligar pro Rodrigo.
Com Santos eleito prefeito, a empresa de Carlinhos venceu uma licitação e firmou contrato no valor de R$ 3,8 milhões em verba federal para o fornecimento de kits de uniforme escolar a alunos do ensino fundamental, infantil e creches da rede municipal. A PF suspeita de fraude na licitação.
A assessora parlamentar, Laiza Lelis de Souza também é suspeita de receber transferências irregulares da empresa Trynivest Uniforme LTDA, na época em que Santos exercia o mandato de vereador. As investigações indicam que o valor também teria sido repassado para o atual prefeito. Santos, Laiza e Rodrigo são suspeitos de corrupção passiva e de fraude em licitação. Carlos é suspeito de corrupção ativa e também de fraude em licitação.
Além do prefeito de Embu das Artes, outros 13 prefeitos, 4 ex-prefeitos, 1 vereador e 27 agentes públicos não eleitos, mais 40 pessoas da iniciativa privada, são investigadas por participação no esquema.
Em nota, Ney Santos diz que se reuniu com seus advogados para entender os autos do processo, mas que está de consciência limpa e que a investigação é mais uma tentativa de atrapalhar seu trabalho. Já a prefeitura disse que os quatro mandados cumpridos no município são referentes a contratos de licitação para merenda escolar, uniforme, material didático e outros serviços, e que colabora com as investigações.
Santos não estava na casa no momento em que os agentes cumpriam a ordem judicial, segundo o seu advogado Humberto Barrionuevo. A defesa afirma também que não teve acesso aos autos do processo e que foi informada sobre a execução do mandado por telefone.
Outras denúncias
Investigado por lavagem de dinheiro e associação com tráfico de drogas, Ney Santos foi impedido de assumir a prefeitura de Embu das Artes após vencer as eleições de 2016. Passados dois meses, o ministro Marco Aurélio Mello, do STF (Supremo Tribunal Federal), concedeu um habeas-corpus ao réu. Em 12 de fevereiro do ano passado, prefeito e vice assumiram seus cargos.
Em março deste ano, um dia antes de o Supremo julgar o benefício concedido por Mello em plenário, Santos pediu afastamento por tempo indeterminado da Prefeitura embuense, sendo substituído pelo vice, Peter Calderoni. Depois que o plenário do STF decidiu pela manutenção do habeas-corpus, Santos voltou à prefeitura.
Em 28 de dezembro do ano passado, o jornalista Gabriel Binho, do site Verbo Online, acusou a gestão de Santos de ordenar um ataque a tiros contra ele na rodovia Régis Bittencourt.
A Polícia Civil apontou o então subsecretário de Gestão Tecnológica e Comunicação, Renato Oliveira, e o agente penitenciário Lenon Roque como autores do crime.
Afastado da prefeitura, Oliveira foi denunciado, junto com Roque, por tentativa de homicídio triplamente qualificado. Ambos respondem em liberdade. À Ponte, Oliveira admitiu que seguiu Binho com o carro na rodovia, mas diz que esbarrou na moto do jornalista sem querer e nega ter atirado.
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Fonte: Ponte Jornalismo